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- David Moreira Caldas: um perfil Biográfico
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 - Barras, 184 anos: Museu Virtual de Barras do Marataoã lança Tributo à Cidade Natal 2025.
Pelo quinto ano consecutivo, sob organização do pesquisador e literato da Academia Piauiense de Letras Dílson Lages Monteiro, ocorre Tributo à Cidade Natal, no mês em que o município de Barras do Marataoã aniversaria. A iniciativa, agora integrada ao Museu Virtual de Barras do Marataoã, é uma união de vozes para resgatar memórias e a histórias do Município, especialmente de seu passado mais remoto. Neste ano, a participação nas atividades será certificada com 12h de palestras pelo Museu Virtual de Barras do Marataoã. Para obter a certificação, é necessário preencher a ficha de inscrição a seguir: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSdCCuGU2IsEI-V2VsbqeWnZzslaQ5hs-4b3Z0HmKnJFcBD79g/viewform?usp=header Além de responder ao conjunto de 50 questões sobre as palestras veiculadas, a emissão está condicionada à índice de acertos a partir de 60 por cento. O questionário será hospedado em museudebarras.com.br no dia 30 de setembro e encaminhado aos e-mails cadastrados e os inscritos terão 15 dias corridos para responder às questões. A palestras e atividades acontecem, geralmente, ao vivo, desde 12 setembro, às 20h, e são informadas diariamente no blog do Museu Virtual de Barras do Marataoã, às 15h. Em 24 de setembro, quando Barras faz 184 anos, as palestras serão reproduzidas ininterruptamente por 24 horas na rádio web zonadamatafm.com.br Veja a programação de Tributo à Cidade Natal 2025. Palestras: 1.Torquato Torres: A família Barboza Ferreira – contribuições à história de Barras do Marataoã 2.A Barras do Marataoã de Leônidas Mello: o cotidiano das três primeiras décadas do século XX. Dílson Lages Monteiro (APL/MUSEU VIRTUAL DE BARRAS) 3.David Caldas: professor, jornalista e homem público Reginaldo Miranda (APL/IHGPI) 4.Av. Pinheiro Machado: coração comercial de Barras do Marataoã Francisco de Assis Alves Oliveira 5.A Poesia de Teodoro Castello Branco Carlos Evandro Martins Eulálio (APL) 6.A Criação, A Harpa e A lira Póetica (Os Castello Branco: três poetas na história) – Valdemir Miranda (Secretário da Educação de Esperantina-PI) 7.Babaçu em foco: um mapeamento essencial Dra. Valdira de Caldas Brito Veira (IFPI/ ALVAL/ ACPI) 8.Os Castello Branco Ontem e Hoje Dílson Lages Monteiro (APL/MUSEU VIRTUAL DE BARRAS) 9.A natureza de Barras nos Haicais de Dilson Lages Conversa com o autor. 10.Antepassados patrilineares de meu pai (Rego Barra/ Castello Branco/Rodrigues de Carvalho/Borges Leal) Dr. Gilberto de Abreu Sodré Carvalho 11.Barras do Marataoã no "Diário incontínuo" Elmar Carvalho (APL/ALVAL/APAL/ACALE/AMAPI) 12.O centro de Barras em imagens: uma conversa polissêmica Dílson Lages Monteiro (APL) 13. Os Rebello: a gênese de uma família em Barras do Marataoã Frederico A. Torres Rebello (ALVAL/AHMOCAMPI) 14.Ezequias Gonçalves Costa: um perfil biográfico Dr. Nelson Nery Costa (UFPI/APL/Conselho Estadual da Cultura) 15.Dr. Aécio Carvalho: o médico, o professor, a vida familiar. Manoel Carvalho Monte Filho (UFPI/ALVAL) 16.Rosa da Cunha Barros: uma educadora que marcou Barras do Marataoã Reinaldo Barros Torres (ALVAL) 17.ATIVIDADES CULTURAIS · “Sem palavras”: técnica e arte no média-metragem barrense Bate-papo com os cineastas Joaquim Neto e prof. Marcos Valle Mediação: Dílson Lages · Representações de Barras do Marataoã em poemas-canções de Francy Monte. Bate-papo com o poeta e compositor Francy Monte Mediação: Dílson Lages · Memórias Sonoras – gênese e criação Bate-papo com o cronista Chagas Botelho Mediação: Dílson Lages · Leituras compartilhadas de poemas e crônicas sobre Barras – organização do Museu Virtual de Barras do Marataoã O morro da casa-grande, capítulo a capítulo em narração do autor, Dílson Lages · Lançamento oficial do Museu de Barras do Marataoã Obs.: programação sujeita a alterações. A HISTÓRIA DE BARRAS DO MARATAOÃ – “A ocupação da faixa de terra que compreende a antiga Barras se iniciou em meados do século XVIII, tendo a primeira capela que dá início ao povoamento construída em 1759. Um dos primeiros colonizadores foi o fazendeiro bahiano Miguel Carvalho de Aguiar, aqui estabelecido a partir de vários condicionamentos do contexto da época, entre os quais, a ligação familiar com Bernardo Carvalho de quem era filho. Bernardo fora o fundador de Bitorocara, hoje Campo Maior, região da qual Barras fazia parte, e com a família Carvalho de Almeida, entre os quais os padres Miguel, Tomé e Inocêncio de Carvalho. A organização do núcleo urbano se prolonga, sucessivamente, por meio de nomes como Manoel Carvalho, Manoel José da Cunha e por laços de parentesco a Francisco Borges Leal e sua descendência. A esse tempo, algumas fazendas vão então se formando na extensa área que compreenderia Barras, uma faixa de terras que ia, na primeira metade do século IXX, de Cabeceiras a Luzilândia, margeando a porção esquerda do Rio Parnaíba, no sentido norte. Barras do Marataoã construiria uma forte história de tradições que se manteria firme até meados de 1950, quando os referências econômicos e a representatividade política, social, cultural e financeira do município, no plano estadual e nacional, sofrem severas mudanças. Sua história de tradições, a abundância de recursos naturais e o desejo de sua gente de construir uma sociedade justa e de igualdade permanecem, porém, imorredouros. Por mais um ano, o Tributo à Cidade Natal vive memórias de narrativas que se cristalizaram como representação da identidade e da construção do tecido social, sempre se reinventado em busca de uma cidade, a cada dia melhor, mais participativa, inclusiva e humana” (Dílson Lages Monteiro). ACESSE EDIÇÕES ANTERIORES DE TRIBUTO À CIDADE NATAL https://www.museudebarras.com.br/blank-5 Acompanhe a programação de Tributo à Cidade Natal 2025 pelo canal Tributo à Cidade Natal no You Tube ✨ Convite especial aos barrenses! ✨ Você já conhece o espaço “Tributo à Cidade Natal” ?É lá que estão reunidos vídeos que resgatam memórias, histórias, tradições e a beleza de Barras.Cada produção é um pedaço vivo da nossa identidade, um elo entre o passado, o presente e o futuro da nossa terra. 🎥 Ao seguir os vídeos, você:✅ Revive lembranças que marcaram gerações;✅ Descobre curiosidades e personagens que fizeram a história da cidade;✅ Reforça o orgulho de ser barrense. 👉 Siga, compartilhe e faça parte desse movimento de valorização da nossa cidade natal. Porque lembrar Barras é manter viva a nossa essência! https://www.youtube.com/@tributoacidadenatal7570 (ASCOM MUSEU VIRTUAL DE BARRAS DO MARATAOÃ)
 - João Paulo Diniz e seu genro José Pires Ferreira, no espaço colonial
[Gilberto de Abreu Sodré Carvalho] Escrevo com informações de Edgardo Pires Ferreira (2013) e de Reginaldo Miranda ( João Paulo Diniz, pioneiro da indústria de charque no Piauí, no portal Entretextos, em 2017). João Paulo Diniz nasceu em Portugal. Faleceu depois de 1792, provavelmente em Parnaíba. Veio do Reino para o Maranhão no final da década de 1750. Com a expulsão dos jesuítas do Brasil, em 1759, por ordem do marquês de Pombal, João Paulo Diniz ocupou a fazenda da Santa Cruz das Pedras Preguiças e respectiva casa-grande, propriedade dos padres em Barreirinhas, no Maranhão. Foi fazendeiro de criação, agricultor, industrial e comerciante. Antes de 1758, ele já se encontrava no que logo seria a vila da Parnaíba, no Piauí, criada oficialmente como vila de São João da Parnaíba em 18 agosto 1762. Em 1768, foi nomeado, pelo Capitão-General Dom Fernando da Costa de Ataíde Teive, para o cargo de administrador da Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e Maranhão, no vale do rio Parnaíba, estabelecendo-se na vila de São João da Parnaíba. Por volta desse mesmo ano, o de 1768, João Paulo Diniz tinha convidado seu parente Domingos Dias da Silva, radicado no Rio Grande do Sul, a entrar nos negócios de charqueadas no Piauí. Em 1769, é encarregado, pelo mesmo Dom Fernando, de ajudar no abastecimento de carne de Belém do Pará, que consumia entre 28.000 e 30.000 bois por ano. Em tudo está evidente o papel de João Paulo como protagonista da indústria de charque, seja no então Estado do Grão-Pará e Maranhão, seja no Estado do Brasil, ao sul. Logo, em 1770, abria novos caminhos para trazer seus rebanhos da região de Balsas e Pastos Bons, no sul do Maranhão, onde possuía várias fazendas de gado, até a foz do rio Parnaíba. Organiza açougues e oficinas de carne seca na foz do rio Balsas, para onde vaqueiros tocam imensas boiadas, que ali eram abatidas; o sal vinha rio acima. A carne, depois de retalhada e salgada, era transportada em barcos pelo rio Parnaíba abaixo, até o Porto das Barcas, de onde seguia em sumacas para Belém. Tornou-se, rapidamente, o maior fazendeiro da região em geração de receita, com a verticalização do processo produtivo: desde o boi em pé até o charque, o couro e os solados para sapatos e botas. De rigor, foi o pioneiro da industrialização da carne-seca em todo o Brasil, precedendo nessa atividade o Ceará e o Rio Grande do Sul. Seus produtos eram enviados para Alcântara, São Luís, Belém, Recife, Salvador e Rio de Janeiro. Seu couro e seus solados de couro iam para o Reino. João Paulo Diniz foi ainda pioneiro na produção do algodão no Maranhão. Em 24 de abril de 1776, ele firmou contrato com a Câmara Municipal de Tutóia, no Maranhão, para o arrendamento da ilha do Caju, onde introduziu o gado vacum. Sabe-se que João Paulo Diniz, com outros, desenvolveu a feitoria do Porto das Barcas, antes Porto Salgado, em Parnaíba, para a comercialização e exportação, especialmente, da carne-seca. No que importa a atividade militar, que todos os poderosos deviam desenvolver àquele tempo, João Paulo foi capitão-mor de Parnaíba. Em 9 de março de 1777, foi-lhe passada a patente de mestre de campo da cavalaria de ordenanças do Piauí. Na qualidade de militar, foi membro da Junta Trina de Governo da capitania do Piauí, em 1788. João Paulo Diniz casou-se em São Matias de Alcântara, Maranhão, com Rosa Maria Joaquina Pereira de Castro, nascida em São Matias de Alcântara e falecida em Parnaíba. Rosa Maria seria herdeira de abastado comerciante estabelecido em Alcântara. Em Parnaíba, João Paulo Diniz e esposa construíram a capela-mor da igreja matriz de Nossa Senhora da Graça, na Praça da Graça, depois de terem mandado refazer a nave central, o teto e o forro. Em 1777, a Cúria metropolitana de São Luís autorizou a bênção do templo reformado. No ano seguinte, o casal doou à paróquia uma casa na praça da igreja. O empreendedorismo de João Paulo Diniz era estranhado pelas autoridades. O Capitão-General Dom Fernando da Costa de Ataíde Teive, acima referido, escreveu ao seu subalterno o governador do Piauí, Gonçalo Lourenço Botelho de Castro, em 1770: Um dos homens de negócio da Parnaíba, chamado João Paulo Diniz, veio aqui trazer duas sumacas de carne-seca para a Fazenda Real, tendo-se-lhe encarregado este transporte o ano próximo passado. E havendo na referida Vila alguma implicância como ele me informa, sucedeu duvidarem-lhe um piloto, que necessitava, para dar rumo a uma das embarcações, o qual, com efeito, recebeu a bordo dela, não obstante os embaraços que achou. Agora, porém, receia que na mesma Vila lhe façam alguma alcavala, de que saia prejudicado. E para evitar qualquer acontecimento contrário ao giro de seu negócio, passará V. Sa., as ordens que forem conducentes a este fim, visto andar o dito homem em serviço de S. Maj., e de tanta ponderação, que dele se deveu muita parte desta navegação até o presente ignorada (CABA Cap. Livro 2. 2.ª Parte. p. 51-51v). João Paulo Diniz foi o pioneiro da indústria de charque no Piauí, e também em toda a América Portuguesa. Antecedeu a Domingos Dias da Silva, que, logo mais tarde, iria ser conhecido na indústria e comércio parnaibano, sendo mais festejado que João Paulo, em vista da abundância material a que atingiu. Faleceu em ano ainda ignorado, provavelmente em sua casa, na antiga vila de São João da Parnaíba. *** Conforme Pires Ferreira (1987) escreve, José Pires Ferreira nasceu em 1757, no Recife, e morreu no povoado de Barra do Longá, no Piauí. Foi comerciante em Pernambuco e ia duas ou três vezes ao ano ao Piauí, em pequenos navios carregados de mercadorias (tecidos, sapatos, perfumes, porcelanas, especiarias etc.). Vendia ao longo da costa nordestina até chegar à cidade de Parnaíba, grande centro do comércio da carne seca. É importante esse dado, uma vez que a carne seca poderia ser trocada pelas mercadorias de José Pires Ferreira, que a transportaria em sua sumaca para o Recife, no retorno. Ainda a acrescer, como comentário meu, que José Pires Ferreira era um mercador a grosso, ou seja, não era comerciante de porta de rua ou de varejo, como hoje se diria. Casou-se em 1786, em Buriti dos Lopes, Piauí, com Mariana de Deus Castro Diniz, nascida na fazenda de Santa Cruz das Pedras Preguiças (Barreirinhas, Maranhão), falecida na fazenda de Santo Agostinho, no atual município de Magalhães de Almeida, Maranhão. Mariana de Deus Castro Diniz era filha de João Paulo Diniz e Rosa Maria Joaquina Pereira de Castro. Como informa Pires Ferreira (1987), Mariana de Deus estava viva em 21 de novembro de 1832, quando do batismo de Liberato, filho de escravos de seu filho João de Deus Pires Ferreira, conforme assentamento da igreja matriz de Parnaíba. O casal José e Mariana de Deus foi residir primeiramente na propriedade de Santa Cruz das Pedras Preguiças. Essa herdade tinha sido do pai de Mariana de Deus, o muito rico João Paulo Diniz. Com o tempo, José Pires Ferreira e Mariana de Deus Castro Diniz foram ter domicílio na cidade de Parnaíba, mas também residência na Barra do Longá, em Buriti dos Lopes, na confluência dos rios Longá e Parnaíba, de onde José controlava o seu comércio. Penso que, durante sua vida, cada vez mais sua ocupação se tenha fixado no gado, na carne-seca e no couro. A sua ligação com o Recife, mediante a ida e vinda de sumacas com mercadorias, deve ter esmaecido e cessado. O rio Preguiças, logo acima mencionado, foi assim chamado por ser lenta a sua correnteza. Desde sua foz até a Santa Cruz das Pedras Preguiças, permitia a navegação de embarcações médias. Indo para cima da fazenda, quando o volume de água se reduzia, os barcos tinham de ser de pequeno calado. A terras da região eram fertilíssimas e o clima agradável pela proximidade do mar. Havia chapadas para a criação de gado vacum que, penso, poderia ser vendido para carne-seca ou transformado nesse produto por ordem do próprio José Pires, para ser levada à cidade de Parnaíba. A fazenda de Santa Cruz das Pedras Preguiças era parte das antigas terras da Companhia de Jesus, sendo os escravos negros abundantes e decisivos para a geração de muita produção. No ano de 1795, José Pires Ferreira se encontra em Barra do Longá, ocasião em que estava na posse de terras herdadas por sua esposa, Mariana de Deus, e outras terras devolutas em torno da lagoa do Bacuri e também ao longo do rio Parnaíba, do lado maranhense. Também nesse referido ano, tinha o domínio das terras herdadas por seu pai, o notável mercador Domingos Pires Ferreira. A par dessas terras referidas, José Pires Ferreira foi obtendo a posse de grandes áreas na margem piauiense do rio Parnaíba. É preciso tratar de Domingos Pires Ferreira para melhor entender o filho José Pires Ferreira, e o que significa o aporte Pires Ferreira. Domingos Pires Ferreira nasceu no lugar Bustelo, freguesia de Santa Madalena da Vila da Ponte, Chaves, Portugal, em 1718. Chegou ao Recife, em 1725, aos sete anos de idade, para estar sob a guarda do tio materno Manuel Alves Ferreira, comerciante, ou como diziam então, mascate. Casou-se, no Recife, em 05 de fevereiro de 1748, com Joana Maria de Deus Correa Pinto, nascida no Recife, filha do comerciante e familiar do Santo Ofício Antônio Correa Pinto e de Leandra da Costa Lima. Domingos Pires Ferreira faleceu em 1792, no Recife, Pernambuco (Pires Ferreira, 1987). Os filhos homens de Domingos Pires Ferreira, como Antônio, Domingos, Manuel, João de Deus, Joaquim e Gervásio, foram estudar em Coimbra. José Pires Ferreira não seguiu para Coimbra para estudar, mas, com certeza, teve boa educação no Recife. Ficou no Nordeste, especialmente no Piauí. Domingos adquiriu fazendas de gado na região norte do Piauí, no território do então município de Parnaíba. Observe-se que a razão para o interesse em carne bovina e, consequentemente, na carne-seca estava no enorme movimento humano no centro do Brasil, com a atividade mineira do ouro. O valor relativo da carne cresceu enormemente durante o século 18, ao ponto de fazer fortunas. O ouro dos mineradores pagava muito bem. José Pires Ferreira teve um primo muito importante, na mesma faina da ocupação econômica do Nordeste, sendo muito provável, se não certo, que os dois tenham se encontrado nos negócios de gado, sal e carne seca. Esse primo de José foi Domingos Affonso Ferreira, o qual inaugurou o apelido duplo “Affonso Ferreira”. Domingos Affonso Ferreira nasceu a 14 de fevereiro de 1737, no lugar Bustelo, freguesia de Santa Maria Madalena da Vila da Ponte, Portugal. Faleceu a 05 de fevereiro de 1804, no Recife, sendo sepultado na capela da Ordem Terceira de São Francisco, onde era irmão e ministro. Domingos Affonso Ferreira era filho de Simão Affonso e de Isabel Pires (nascida no lugar Bustelo), irmã de Domingos Pires Ferreira. Domingos Pires Ferreira e Isabel Pires eram filhos de Domingos Pires (do Penedo), batizado em 6 de abril de 1681, em Bustelo, e de Domingas Gonçalves Ferreira, nascida na freguesia de São Tomé da Parada do Outeiro, Chaves. Eles se casaram em 6 de outubro de 1700. Os irmãos Domingos e Isabel eram netos paternos de Antônio Pires e de Isabel Ferreira, do lugar Bustelo. Netos maternos de Pedro Gonçalves e de Maria Álvares, moradores de Parada do Outeiro, casados em 4 de maio de 1670. Domingos Affonso Ferreira, filho de Simão Affonso e Isabel Pires (irmã de Domingos Pires Ferreira), chegou ao Recife, Pernambuco, para morar na casa do tio Domingos Pires Ferreira, na loja de fazendas de que esse último era proprietário. Com a ajuda do tio, Domingos Affonso Ferreira prosperou e teve sua própria loja. Chegou a ser um dos homens mais ricos de Pernambuco em sua época. Como pode ser pesquisado em www.parentesco.com.br , fundado por Edgardo Pires Ferreira, Domingos Affonso Ferreira e o seu genro Bento José da Costa foram sócios em grandes empreendimentos rurais, principalmente na pecuária no Rio Grande do Norte. Domingos Affonso Ferreira recebeu duas cartas de data e sesmaria sobre partes do sítio chamado Madeira e do Amargoso nas Salinas, e a outra de sobras de terra do sítio da Entrada e das terras de Nossa Senhora do Carmo, na barra do Rio Mossoró. Domingos Affonso Ferreira e seu genro Bento José da Costa adquiriram as terras de dona Francisca Rosa da Fonseca, com as fazendas de gado que possuía no sertão e na barra do Rio Assú, que incluía Cacimbas do Viana (hoje, Porto do Mangue) e a atual Macau, além de várias pequenas ilhas, como a desaparecida ilha de Manuel Gonçalves. Sobre a importância dos Pires Ferreira, no qual se inclui o ramo “Affonso Ferreira”, observa-se que a junta governativa de Pernambuco, por ocasião da Revolução Pernambucana de 1817, comportava vários parentes de Domingos Affonso Ferreira: Filipe Nery Ferreira, seu filho; Gervásio Pires Ferreira, seu primo e irmão de José Pires Ferreira; Bento José da Costa, seu genro; e o padre Laurentino Antônio Moreira de Carvalho, que era Secretário da Junta, possivelmente seu cunhado, pois o sogro de Domingos foi o capitão Laurentino Antônio Moreira de Carvalho, mesmo nome do padre. Sobre os empreendimentos rurais de Domingos Affonso Ferreira e Bento José da Costa, no Rio Grande do Norte, e sobre as escrituras, inventários e testamentos destes, deve-se consultar Ilha de Manoel Gonçalves, vida e morte, de João Felipe da Trindade, de 2016. Além disso, o testamento de Domingos Affonso Ferreira encontra-se no Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano no Recife. Assista à palestra no canal Tributo à Cidade Natal no You Tube.
 - Babaçu: um mapeamento essencial para Barras do Marataoã
Esse foi o tema da palestra da professora do Instituto Federal do Piauí, a barrense Valdira de Caldas Brito Vieira, doutora em Agronomia e pós-doutora em sensoreamento remoto, ao Tributo à Cidade Natal 2025. O babaçu, além de elemento de identidade, constitui-se em elemento importante na vida econômica do Município. Leia transcrição de trecho da palestra da professora Valdira de Caldas: "(...) Nós fizemos levantamento de, acho, 64 municípios no estado todo. Municípios que teriam uma produção, que de alguma forma apresentavam uma produção do Babaçu. Mas era uma área muito grande. Terminamos fazendo alguma seleção e aqui dentro da área que a gente trabalhou, eram 42 municípios. Dentro dessa seleção, nós tivemos que reduzir por conta das dificuldades. Nós mapeamos, de qualquer forma, 25 municípios. Então, 25 municípios foram mapeados em busca de área de Babaçu. Esse mapeamento foi feito com imagem de satélite. Nós usamos uma imagem de um satélite que se chama RapidEye. (...) A gente sabe que a cadeia produtiva do Babaçu é uma das mais representativas do Brasil. Tem uma área de entre 13 e 18 milhões de hectares, distribuídos em 279 municípios e 11 estados. Então, realmente é um trabalho de importância a questão do extrativismo do Babaçu. Muitas famílias sobrevivem dessa renda que é tirada do Babaçu. Então, aí dentro tem uma coisa que é social, que é muito importante e que a gente chamou atenção aqui nesse trabalho, a grande importância da sobrevivência dessas famílias que vivem a partir desses produtos e subprodutos do Babaçu. E hoje a gente está com preocupação cada vez maior. Nós temos associações. Segundo a Embrapa, o Babaçu é considerado um dos recursos extrativistas do Brasil e existem muitas pesquisas tratando já da fabricação de biocombustíveis, como biodiesel, bioquerosene, a partir do Babaçu, embora isso seja um tema que precisa ser muito estudado, porque, de qualquer forma, a gente tem que ter muita cautela para não prejudicar a parte ambiental. Bem, pessoal, vou passando aqui na parte de revisão bibliográfica. A gente vê um pouco da caracterização botânica do Babaçu. Eu vou me ater mais lá nos resultados. Então vou passando um pouco para vocês aqui sobre o Babaçu, um pouco sobre quais são as partes que são aproveitáveis do Babaçu. Na verdade, quando a gente diz que do boi aproveita até o chifre, do Babaçu se aproveita tudo também; tudo é possível de gerar um produto, e a gente trabalha muito com isso para, exatamente, gerar novos produtos farmacêuticos, cosméticos. Tudo isso é possível; todos esses são subprodutos do Babaçu. (...) Fizemos essa seleção aqui e decidimos trabalhar com 25 municípios. Aqui a gente tem a produção de 2006 a 2013, o período do trabalho. Percebemos os maiores produtores: Barras, Miguel Alves e União. Temos uma média que é a seguinte: Barras, de 819,88 toneladas, Miguel Alves, 821 e União, 715.Esperantina, com 324, Campo Largo, 208. Então, vai reduzindo a produção. Assista à palestra "Babaçu: um mapeamento essencial para Barras do Marataoã", ministrada pela professora Valdira de Caldas Brito Vieira.
 - 1795: Habilitação de gênere de Manoel Tomaz Ferreira e de seu irmão Antônio José de Sampaio
Dr. João do Rêgo, autor de "O menino do Canto Escuro". Nota preliminar: o acesso a esse documento se tornou possível em face a pesquisas de dr. João do Rêgo, barrense, que generosamente o socializou para conhecimento de seus conterrâneos e pesquisadores interessados. Dr. João do Rêgo é advogado de longa data e autor de O menino do Canto Escuro. ***** Arquivo Público do Estado do Maranhão Setor de Códices - Fundo da Arquidiocese do Maranhão Lista nominal - nº 9 - Genere - Documento 1705 [fl.1] 1795 Habilitandos de genere Antonio Joze de São Paio e seo irmam Manoel Thomaz Ferreira Autos de habilitação de genere Camera Ecc lesiastic a Escr iv am Beckman Autuam en to Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil sete centos e noventa e cinco aos oito dias do mez de Julho do dito anno nesta Cidade do Maranhão em o meu escriptorio autuei e preparei huns autos de inquirição de genere dos habilitandos acima nomeados, a que por comissão deste Juizo se procedeu na Freguesia de Campo-maior deste Bispado, e assim mais dous instrumentos de genere vindos do Arcebispado da Bahia e do Bispado de Pernambuco em virtude das Requisotorias expedidas deste mesmo Bispado do Maranhão. Tudo he o que adiante se segue e vai junto; Tudo he o que adiante se segue e vai junto; e para constar fiz este autuamento eu o Padre Joze João Beckman Escrivão da Camera Ecclesiastica que o escrevi. [fl.2] 1793 Vila de Santo Antonio de Campo-maior Autuamento de hum Mandado de inquirição de genere dos abilitandos Antonio Joze de Sam Paio e seo Irmão Manoel Thomas Ferreyra Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil sete centos e noventa e tres annos aos sette dias do mes de fevereiro do ditto anno nesta Villa de Santo Antonio de Campo maior, commarca da Cidade de Oeyras, Capitania de São José do Piauhy, e cazas de rezidencia do Muito Reverendo Vigario da Vara Miguel Lopes Madeyra [ilegível] aonde eu escrivão do seo cargo fui vindo, sendo ahy pello ditto me foi entregue hum Mandado de Comissão para se inquirirem testemunhas sobre a inquirição de genere dos Abilitandos Antonio Joze de São Paio e seo Irmão Manoel Thomas Ferreyra e hua certidão do dito Reverendo Vigario da Vara com hum rol de seis testemunhas nomeadas mandando-me autuasse junto com o ditto Mandado, preparasse e processasse para efeito de continuar os ditos das testemunhas por Elle nomeadas, o que visto por mim autuei e preparei e processei que he tudo o que adiante se segue do que para constar fis este termo eu Alexandre Rodrigues Lixboa escrivão Eccleziastico, que o escrevi. [fl.3] Mand ad o de segredo dos habilitandos Antonio Joze de Samp ai o e seo irmão Manoel Thomaz Ferreira João Maria da Luz Costa Conego da Cathedral desta Cidade do Maranhão, Comissario do S. Off. Provisor Vigario Geral e Governador do Bispado com Jurisdição Ordinaria no espiritual e temporal ad universitatem causarem por S ua Ex celenci a R everendissi ma Etc. Faço saber q’ Antonio Joze de Sampaio e seo irmão Manoel Thomaz Ferreira naturais da Freguesia de Santo Antonio da Vila de Campo maior deste Bispado, filha legitima de Francisco Xavier de São Euzebio do Bispado de Pernambuco e de Maria Barboza de São José do Arcebispado da Bahia, netos paternos de Manoel Duarte de Sampaio do Bispado de Coimbra e de Ignez Rodrigues da Costa do dito Bispado de Pernambuco; e maternos de Manoel Barboza Ferreira do Rosário, natural do Bispado do Porto e de Catharina Pereira da Silva do Arcebispado da Bahia; se pertendem habilitar de genere: portanto fiz passar o prezente Pelo qual mando ao Padre Serafim Pereira de Carvalho prezentemente encarregado do Officio Parochial da dita Freguesia de Campo Maior que com todo o segredo sem q’ nisso intervenha a parte ou outro por ella se informe [ilegível] da dita Freguesia. [...] João Maria da Luz Costa [fl.5] [...] não axei quem me informasse dos Avos paternos dos abilitandos mas sim dos maternos q’ são Manoel Barboza Ferreira do Rozario e sua mulher Catarina Pereira da Silva, informarão-me ser o pay dos abilitandos natural de Pernambuco e a may da Bahia e o dito Manoel Barboza dizia era natural do Bispado do Porto e sua mulher Catarina Pereira natural da Bahia e viverão sempre os sobreditos Pais e Avós maternos dos abilitandos nesta freguesia de sua fazendas de gados; sempre com boa nota, tidos e avidos por cristaons velhos, muito tementes a Deos e não me consta q’ nenhum deles incorresse en crime de Leza Magestade me forão penitenciados pelo Santo Officio; nem q’ fossem Ereges, infieis e Apostatas da Nossa Santa Fé e menos q’ incorrerem em infamia alguma, de fato ou de Direito nem de Judaísmo e nem outra nação infeta e por tais sempre forão tratados. E por me ser tudo constante e assino em fé de Parocho. Vila de Santo Antonio de Campo maior aos 2 de fevereiro de 1793. O Vig a rio Miguel Lopes Mad ei ra Rol das T es t emunh as 1 Ant oni o da Roxa Soares 4ª M ano el Borges Lial 2 Inacio Pinto da Cunha 5. Fran cis co Borges Lial 3 Joze Borges Cord ei ro 6. Bernardo Borges Lial [fl.6] Assentada Data: 07.02.1793 Local: Vila de Santo Antônio de Campo Maior, comarca de Oeiras, Piauí. Testemunha 1ª Antonio da Rocha Soares homem branco cazado, e morador nesta freguezia da Villa de Santo Antonio de Campo Maior deste Bispado de São Luis do Maranhão, de idade disse ser setenta e quatro annos pouco mais ou menos, que vive de sua fazenda de gados vacum e cavallar e suas lavouras testemunha a quem o Muito Reverendo Vigario da Vara Miguel [fl.6v] Lopes Madeyra [ilegível] defferio o juramento dos Santos Evangelhos em hum livro delles em que pos Sua mão direyta e prometteo dizer verdade do que soubesse e lhe fosse preguntado e co costume disse nada. [...] Dice que conhecia muito bem a Antonio Joze de Sam Paio e Seo irmão Manoel Thomas Ferreyra, pois erão nascidos e baptizados nesta freguezia de Santo Antonio de Campo maior deste Bispado de São Luis do Maranhão e a rezão do seo conhecimento he conhece-las desde meninos e mais não dice. Do terceiro dice que conhece muito bem a Francisco Xavier de Santo Euzebio, já defunto, e conhece a Maria Barboza de São José inda viva, pais dos Abilitandos, aos quais viverão sempre de suas fazendas de gados e o dito Francisco Xavier de Santo Euzebio foi Mamposteiro das Bullas da Santa Cruzada e que o Pay dos Abilitandos era natural do Bispado de Pernambuco e a May dos ditos he natural do Archebispado da Bahia e a rezão do seo conhecimento he por ter elle testemunha tido conhecimento e a amizade com os pays dos abilitandos desde que chegara nesta terra ou freguezia e mais nao dice deste. Do quarto artigo dice que não tem nenhum conhecimento e noticia dos avós paternos dos abilitandos mas sim conheceo muito bem [fl.7] a Manoel Barboza Ferreyra do Rozario, já defunta, que dizia era natural das partes de Lixboa, e conhece a sua mulher que inda he viva Catharina Pereyra da Sylva que dis he natural do Archebispado da Bahia da freguezia de Agoafria, avos maternos estes dos Abilitandos e a rezão do seo conhecimento he a amizade q’ sempre teve a muitos annos com elles e nada mais dice deste. [...] Do septimo dice que os Abilitandos e seos Pais e avós nunca cometterão crime de Leza Magestade Divina. [...] [fl.7v] Testemunha 2ª Ignacio Pinto da Cunha homem branco cazado morador nesta freguezia de Santo Antonio de Campo Maior e de idade dice ser de Secenta e oito annos pouco mais ou menos, que vive de suas fazendas de gado, testemunha a quem o Muito Reverendo Vigario da Vara Miguel Lopes Madeiro [ilegível] defferio o juramento dos Santos Evangelhos em hum livro delle em que pos Sua mão direita e prometteo dizer verdade do que soubesse e lhe fosse preguntado e do costume dice nada. [fl.9] Testemunha 3ª Joze Borges Cordeiro homem branco cazado morador no termo dest Villa de idade dice ser de setenta pouco mais ou menos que vive de sua fazenda de gado vacum e de suas lavouras, testemunha a quem o Muito Reverendo Vigario da Vara Miguel Lopes Madeira [ilegível] defferio o juramento dos Santos Evangelhos em hum livro delles em que pos sua mão direita e prometeu dizer verdade do que soubesse e lhe fosse preguntado e do costume dice nada. [...] Do terceiro dice que conheceo muito bem a Francisco Xavier de Santo Euzebio, já falecido, e conhece a Maria Barboza de Santo Jozé, pais dos Abilitandos, sabe que o sobredito Francisco Xavier era natural do Bispado de Pernambuco e sua mulher Maria Barboza natural da freguezia de São João de Agua Fria Arcebispado da Bahia e moradores nesta freguezia de Campo maior donde se cazarão e viverão sempre de suas fazendas de gados e conhece-os a vinte a tantos annos a outra parte e a rezão de seo conhecimento he porque fora vizinhos e mais não dice deste [fl.9v] dice desta parte. [...] Data: 08.02.1893 Assentada [fl.10] Local: Vila de Santo Antonio de Campo Maior, comarca de Oeiras, Piauí. Testemunha 4ª Francisco Borges Leal homem branco [partes corroídas] morador nesta freguezia de Santo Antonio de Campo Maior de idade dice ser de quarenta annos pouco mais ou menos que vive de sua fazenda de gados, testemunhas que o Muiro Reverendo Vigario da Vara defferio o juramento dos Santos Evangelhos em hum livro delles em que pos sua mão direita e prometeu dizer verdade do que soubesse e lhe fosse perguntado e do costume disse nada. [fl.11v] Testemunha 5ª Manoel Borges Leal de Castelo Branco homem branco e morador no termo desta Villa de Campo Maior e de idade dice ser de secenta [?] e dous annos pouco mais ou menos que vive de suas fazendas de gados testemunha a quem o Reverendo Vigario da Vara defferio o juramento os Santos Evangelhos em hum livro delles em que pos sua mão direita e pormetteo dizer a verdade do que soubesse e lhe fosse perguntado e do costume dice nada. [...] Dice que conhecia aos abilitandos Antonio Joze de São Paio e Manoel Thomaz Ferreyra e forão nascidos e batizados nesta freguezia de Santo Antonio de Campo Maior e a rezão de seo conhecimento he pelos ter visto muitas vezes e mais não dice deste. [fl.11v] Testemunha 6ª Bernardo Borges Leal de Castello Branco Tenente de Cavalos. Almotacel actual nesta Villa de Campo maior homem branco solteiro e na mesma morador de idade que dice ser de quarenta e quatro annos pouco mais ou menos que vive de sua fazenda de gados; testemunha a quem o Muito Reverendo Vigario da Vara defferio o juramento dos Santos Evangelhos em hum livro delles em que pos sua mão direita e prometeu dizer verdade do que soubesse e lhe fosse preguntado e do costume disse nada. [...] Dice que conhecia aos abilitandos Antonio Joze de São Paio e seo irmão Manoel Thomas Ferreira e que erão nascidos e baptizados nesta freguezia de Santo Antonio de Campo Maior e os conhece desde meninos e mais não dice deste. Do terceiro dice que conheceo a Francisco Xavier de Santo Euzebio já defunto e sua mulher Maria Barboza, pay dos abilitandos, mas ignora elle testemunha onde sejão suas naturalidades e sabe que sempre viverão nesta freguezia de suas fazendas de gados sempre tidos e havidos por brancos, christãos velhos sem notta algua e a rezão que tem de assim saber he por conhece-los a dezaseis annos pouco mais ou menos e mais não dice deste.
 - Artigo: As Habilitações de Genere dos Padres Antônio José de Sampaio e Simpliciano Barbosa Ferreira
Torquato Oswald-Torres Resumo : Este artigo analisa dois documentos históricos raros que tratam da habilitação de genere dos padres Antônio José de Sampaio (1793) e Simpliciano Barbosa Ferreira (século XIX), tio e sobrinho, membros da tradicional família Barbosa Ferreira de Sampaio, do piauiense. A partir da transcrição dos depoimentos e da análise genealógica, o estudo investiga aspectos sociais, religiosos e políticos do Piauí colonial e imperial, revelando como os mecanismos de pureza de sangue funcionavam como estratégia de legitimação e manutenção do poder pelas elites locais. Palavras-chave: Habilitação de genere. Pureza de sangue. Genealogia. Piauí colonial. Elites eclesiásticas. 1. Introdução Durante os períodos colonial e imperial brasileiros, o acesso aos cargos eclesiásticos estava condicionado à comprovação de “pureza de sangue”, ou seja, a ausência de ascendência judaica, moura, africana ou herética. Esse processo, originado na Península Ibérica, foi formalizado nos chamados autos de habilitação de genere, que reuniam certidões, depoimentos testemunhais e avaliações da moral e linhagem do requerente¹. Este sistema jurídico-religioso, herdado do Império Português, visava garantir que apenas indivíduos socialmente tidos como “cristãos-velhos” pudessem integrar as estruturas de poder eclesiástico, um reflexo direto da política discriminatória de origem ibérica². Neste artigo, comparamos dois processos: o do padre Antônio José de Sampaio, iniciado em 1793, e o de seu sobrinho, o Cônego Simplíciano Barbosa Ferreira, no século XIX. Ambos pertencem a linhagens tradicionais do Piauí e suas habilitações ilustram como o capital genealógico e simbólico era mobilizado pelas elites para garantir posições de prestígio no seio da Igreja e, por extensão, da vida pública regional³. 2. A Habilitação de Antônio José de Sampaio (1793) Em 1793, na vila de Santo Antônio de Campo Maior, foram iniciados os autos de habilitação de genere do jovem Antônio José de Sampaio e de seu irmão Manoel Thomaz Ferreira. O procedimento foi conduzido pelo vigário da vara Miguel Lopes Madeira e registrado pelo escrivão Alexandre Rodrigues Lisboa, conforme os protocolos eclesiásticos da época. 2.1. Origem Familiar Os habilitandos eram filhos de Francisco Xavier de Santo Euzébio, natural de Pernambuco, e de Maria Barbosa de São José, natural da Bahia. Os avós paternos, Manoel Duarte de Sampaio (Coimbra, Portugal) e Ignez Rodrigues da Costa (Pernambuco), e os maternos, Manoel Barbosa Ferreira do Rosário (Porto, Portugal) e Catarina Pereira da Silva (Bahia), compunham uma linhagem considerada branca e cristã-velha — atributos fundamentais para a aprovação nos exames eclesiásticos da época. 2.2. Depoimentos das Testemunhas Foram ouvidas seis testemunhas, todas residentes na vila, com idades entre 40 e 74 anos. Os depoimentos revelam forte preocupação com a reputação moral e a condição de “brancura” dos requerentes, aspectos que, na lógica da época, validavam sua inserção na Igreja: 1. Antônio da Rocha Soares, de 74 anos, declarou conhecer os habilitandos desde a infância, afirmando que seus pais e avós eram “brancos, cristãos-velhos, sem mácula e sem fama de desonestidade, criadores de gado, vivendo de seus bens”. 2. Ignácio Pinto da Cunha, 68 anos, reforçou a boa reputação dos pais e sua vida dedicada à atividade rural. 3. José Borges Cordeiro, 70 anos, declarou que Francisco Xavier era pernambucano e Maria Barbosa da Bahia, ambos “de boa fama”. 4. Francisco Borges Leal, 40 anos, confirmou o batismo dos habilitandos na freguesia local. 5. Manoel Borges Leal de Castello Branco, 62 anos, declarou conhecer os irmãos desde jovens. 6. Bernardo Borges Leal de Castello Branco, 44 anos, afirmou que os pais eram reconhecidos como brancos e cristãos-velhos, sem qualquer fama de infâmia. O padrão dos depoimentos revela uma prática típica dos autos de genere: a ênfase na branquitude, na religiosidade e na ausência de máculas morais. Tal insistência está diretamente ligada às hierarquias raciais e sociais construídas no Brasil colonial, nas quais a Igreja operava como um dos principais vetores de distinção simbólica⁴. Ao fim do processo, os habilitandos foram considerados aptos à ordenação, tendo seus nomes aceitos como moral e genealogicamente idôneos. 3. O Cônego Simplíciano Barbosa Ferreira Nascido por volta de 1830, o Cônego Simplíciano Barbosa Ferreira era filho de João Barbosa Ferreira e Maria Arcângela Castelo Branco, neto paterno de Francisco Xavier de Santo Euzébio e Maria Barbosa de São José, e neto materno de Marcelino José da Cunha Castello Branco e Maria Florência Lopes Castello Branco, portanto por via paterna era sobrinho do padre Antônio José de Sampaio. Sua formação religiosa e moral estava profundamente vinculada ao prestígio familiar e à tradição católica herdada. 3.1. Herança Familiar e Formação Padre Simpliciano Barbosa Ferreira era descendente das seguintes famílias: Sampaio, oriunda de Coimbra, Barbosa Ferreira, da cidade do Porto e dos Castello Branco, do Piauí. O prestígio familiar ia além da dimensão religiosa. Entre seus tios paternos, destacavam-se também: Manoel Thomaz Ferreira – combatente da Batalha do Jenipapo (1823), condecorado por Dom Pedro I, e José Francisco de Sant’Anna – grande latifundiário da região norte do Piauí. A articulação entre genealogia, religião e propriedade fundiária era comum no Nordeste brasileiro, onde as elites locais utilizavam sua linhagem como base para consolidar influência política e econômica⁵. O acesso ao sacerdócio, nesse contexto, era também uma via de mobilidade simbólica e de reprodução do poder familiar. 4. Considerações Finais Os documentos analisados revelam que os autos de habilitação de genere funcionavam como instrumentos de controle social, reforçando as hierarquias raciais e morais exigidas pela Igreja⁶. Ao mesmo tempo, atuavam como mecanismos de acesso ao poder para os membros das elites locais, que ali encontravam espaço para projetar sua influência e consolidar suas redes familiares. A trajetória de Antônio José de Sampaio e de Simpliciano Barbosa Ferreira demonstra como as linhagens familiares e a construção de reputações morais eram elementos indispensáveis ao ingresso na vida religiosa⁷. Representam, assim, duas gerações de uma elite rural do interior piauiense que articulava genealogia, religião e política para manter sua hegemonia em um Brasil ainda marcado pelas distinções coloniais. Notas 1. Ver: MATTOSO, Kátia de Queirós. Ser escravo no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2003. 2. BOXER, Charles R. O Império Marítimo Português, 1415-1825. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. 3. NOVAIS, Fernando A. (org.). História da Vida Privada no Brasil – Império. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. 4. SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. 5. MONTEIRO, John Manuel. Negros da Terra. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. 6. MATTOSO, op. Cit.; SCHWARCZ, op. Cit. 7. NOVAIS, op. Cit. Referências FONTES PRIMÁRIAS ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO MARANHÃO. Fundo da Arquidiocese do Maranhão. Autos de Habilitação de Genere, 1793-1795. DOCUMENTO GENEALÓGICO sobre o Cônego Simplíciano Barbosa Ferreira. Arquivo particular. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR BOXER, Charles R. O Império Marítimo Português, 1415-1825. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. MATTOSO, Kátia de Queirós. Ser escravo no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2003. MONTEIRO, John Manuel. Negros da Terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil – 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. NOVAIS, Fernando A. (org.). História da Vida Privada no Brasil. Império: A Corte e a Modernidade Nacional. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. Torquato Oswald-Torres Torquato Oswald-Torres (Pesquisador, heráldico e genealogista) Descendente colateral dos Padres Antônio José de Sampaio e Simplíciano Barbosa Ferreira. É Membro Fundador da AHMOCAMPI – Academia de História dos Municípios Oriundos de Campo Maior – PI e da AML – Academia Miguel-Alvense de Letras, além de Sócio Vitalício do Instituto Maranhense de Genealogia, História e Heráldica. Bacharel em Direito pelo Centro Universitário Uninassau – Piauí. Pós-graduado em Direito Previdenciário pela Faculdade Legale – São Paulo e em Direito Eleitoral pela Escola do Legislativo Prof. Wilson Brandão – ALEPI.
 - Plataforma Parentesco: Barras viva em dados genealógicos de todos os tempos.
Dr. Edgardo Pires Ferreira e o historiador Reginaldo Miranda, da Academia Piauiense de Letras, em registro de 08.09.2025, em São Paulo. Em 2016, o idealizador deste Museu de Barras do Marataoã conversou com o antropólogo e genealogista dr. Edgardo Pires Ferreira sobre o projeto que então lançava: a Plataforma de Genealogia Parentesco. O trabalho, além de visar reunir as pesquisas de Dr. Edgardo Pires Ferreira e expandi-las com fontes primárias de matrizes diversas, enseja novos usos do rico acervo sobre famílias diversas e não apenas os Pires Ferreira, matriz de seus estudos. Ouça: https://soundcloud.com/ortalntretextos/wwwparentescocombr-entrevista-com-o-genealogista-edgardo-pires-ferreira?si=3254d77e76f84b34bd1b00c9ad6a63d3&utm_source=clipboard&utm_medium=text&utm_campaign=social_sharing Visite Parentesco e descubra um mundo de informações do passado de Barras do Marataoã
 - Meu avô Manoel do Rêgo Lages: pai infinitas vezes
[Dílson Lages Monteiro, professor, pesquisador, literato e idealizador do Museu Virtual de Barras do Marataoã] Manoel do Rego Lages em registro realista gerado por IA. Criança gosta mesmo é de brincar e de receber afeto. Eu era criança quando convivi com meu avô e sua casa significava diversão e carinho: o que dele mais guardo são as situações que criava para a minha satisfação e a de meus primos no Jenipapeiro. Sentíamos acolhidos, de um acolhimento chamado proteção, e divertir-se tinha lugar certo nas férias, que às vezes duravam até meses, longes da casa paterna, mas como se dela nunca nos tivéssemos desgrudado. Hoje, no distanciamento temporal da idade adulta, vem, além da visão mais racional de todo aquele cenário rural, de sons, cores e sabores em todos os ritmos, tons e paladares únicos, uma emoção e uma nostalgia que não têm tamanho em nossos sentimentos. Essa emoção tinha uma imagem: Manoel do Rêgo Lages (1917-1990). Quando declinamos o olhar interior para o ontem, surgem na memória da infância os pedaços das décadas de 1970 e 1980. Um tempo flutuando com tal leveza, cuja sensação que temos é a da fantasia de um mundo mágico de encantamentos e descobertas, inacessíveis como tal para as crianças da atualidade. Vem um tempo de brincadeiras que jamais retornarão e, por isso, é sempre alegre vovô gritando, de riso aberto para o céu: “Boca do forno?”. Respondíamos: “Forno!”. Ele continuava: “Jacarandá?”. Respondíamos: “Dá!”. Interrogava: “Quando eu mandar?”. Em uníssono, devolvíamos: ”Vou!”. E finalmente recebíamos a nossa missão, quase sempre uma ordem divertida ou, quando já cansávamos, uma tarefa impossível, para se pôr fim à brincadeira. Vem o Lampião Petromax, aceso no terreiro da casa, para ouvirmos as estórias de outro mundo, quando não nos era imposto rezar o terço depois do jantar. Hábito com o qual também nos acostumávamos e se transformava numa obrigação aceita com naturalidade. Rezávamos não apenas para que se “levassem as almas todas para o céu, especialmente as que mais necessitassem”, mas também para Deus “dar muitos anos de vida para papai e mamãe”. Eram as mesmas almas que faziam cócegas em meus medos, obrigando que carinhosamente vovô armasse minha rede próxima à sua cama, onde dormia, quando menino, sempre que estava na fazenda. Manoel do Rêgo Lages Vem da casa que era a figura de meu avô as partidas de dominó e baralho à luz de lamparinas. O movimento da quitanda pesando babaçu e despachando mercadorias, num tempo de acesso limitado a produtos alimentícios e industrializados. Vovô de óculos na ponta do nariz: “Quanto?”. O agregado respondia: “Vinte e cinco quilos”. Vovô emendava: “Despeje ali!”. Levantava-se a cancela do balcão e o morador despejava as amêndoas, trazidas em cofos, no canto direito do comércio, que rapidamente se avolumava a tal ponto que sentíamos a vontade de caminhar por sobre a montanha de coco babaçu e, estando ali, não resistíamos em mastigar amêndoas. “O que vai querer hoje?”... e o trabalhador rural olhava as prateleiras de cima a baixo, sufocadas de mercadorias, mas ia regrando a compra do mais essencial, pondo cada produto no cofo em que trouxera o babaçu. Às vezes, pedia também um grande trago de pinga que engolia com voracidade, cuspindo longe nas calçadas o amargor da aguardente. Talvez cuspisse também as mágoas e opressões da vida e da injustiça do mundo. Era comum que trabalhadores aportassem no comércio da casa-grande da fazenda Jenipapeiro com cargas de babaçu sobre jumentos, além da que traziam sobre o ombro ou em grandes cofos. A amêndoa do babaçu, extraída em atividade manual exigente, dinheiro certo e quase sempre, a única fonte de renda. Entre os camponeses, as míticas figuras de Capelão (Antônio Cearense) e Pananã, seu sobrinho, acompanhados de Maria Moça. Retirantes que aportaram por lá na seca de 1932, juntamente com outras famílias. Fizera o coronel Nelson Pires , sobrinho de Alfredo e sócio-gerente na Casa Esperança, loja comercial vinculada à fazenda de mesmo nome, viagem para o Canindé de São Francisco, no Ceará. Na volta, trouxera mais de 30 pessoas que padeciam da seca à beira das estradas, sob a promessa de que teriam terra para morar e plantar, numa região fértil e abundante de água. É o que conta ainda quem viveu o dia a dia dessa fazenda e remanescentes dessas famílias. Vem da casa que era a figura de meu avô a calçada sobre o morro, tomada de silêncio enquanto ele ouvia a voz do Brasil. Meu avô, o mesmo de sempre na alta madrugada, balançando-se na sala, na cadeira, ouvindo a rádio Nacional, cuja audição das notícias e músicas se confrontava com a dos bichos despertando a manhã, para introduzir a certeza de mais um dia. Vem da casa a figura de meu avô perguntando se já tínhamos namorada. O avô levando-nos aos sítios de frutas com o cuidado redobrado para não padecermos de animais peçonhentos. O avô acompanhando-nos para o banho no Açude ou no Tanque, sempre vigilante, vigilante, com uma alegria gigantesca quando o Jenipapeiro se enchia dos netos. O avô acompanhando trabalho na casa de farinha, nos armazéns, no abate de animais. O avô alegre recebendo visitas de longe. Poucas vezes, vi alguém receber tão bem, com uma fidalguia e apreço humanos que lhe eram próprios. Vem da casa o caminhãozinho de madeira com o qual me presentou aos 6 anos, feito por marceneiro da região. Que rumo dei àquele presente que jamais deveria ter perdido? Como tenho saudade daquele caminhãozinho; vejo-o aqui, no chão, carregado de areia, andando pelas veredas, maiores do que as estradas desconhecidas dos nossos destinos. Estou vendo aqui meu avô entregando-me o caminhãozinho numa época de brinquedos raros. Ou pedindo a Antônio Dias que nos fizesse cavalinhos de carnaúba, e os meus, eu imaginava, mais velozes do que os de todo mundo, mais até do que minhas próprias pernas. Meu avô materno Manoel do Rêgo Lages teve uma vida dedicada às lides da atividade comercial, da agricultura e da pecuária — a vida comum e cheia de expressividade de um tempo em que o mundo rural se impunha ainda forte sobre costumes e hábitos do viver — no saudável desafio de educar e ver prosperar a prole de 13 filhos. Uma vida, também, de atenção concentrada na formação dos filhos em Barras e em Teresina; no desafio em que a amizade, o entusiasmo e a generosidade do parente e parceiro comercial Antônio Félix de Carvalho Filho e do irmão dr. José Lages foram sempre encorajadores; como dos filhos Nelson, Rosa, Gladston e Joaquim, os mais velhos, sempre disponíveis a viver os ideais do pai, auxiliando-o nas demandas necessárias. Uma vida rica de satisfações, como o é a de todos que tem metas de existência. A felicidade era os seus propósitos: o amor à família e o desejo de vê-la adiante de si, adiante do que as escolhas tinham-lhe reservado, como anseia todo bom pai. Em criança, vovô, órfão de mãe em tenra idade, fora mandado pelo pai para o ginásio em Parnaíba, onde também viviam os irmãos durante o período de aulas, e o que consta no boletim escolar dele são as notas de um aluno exemplar. Jovem, estudara em salvador e por último em Belém, antes de resolver regressar para a Esperança, segundo se conta, preocupado com as condições econômicas do pai, de contenção financeira, depois do famigerado conflito agrário da Trindade, o qual demandou em ação judicial no Supremo Tribunal Federal por mais de década e resultou em ação desfavorável ao pai, o coronel Alfredo Pires Lages (1873-1958) . Disso resultaria um duro golpe econômico em um dos mais influentes latifundiários e comerciantes do Norte piauiense na primeira metade do século XX (proprietário de vasto número de fazendas entre Teresina e Porto dos Marruás); latifundiário cuja vida passaria a girar em torno apenas da Fazenda Esperança, berço de sua origem familiar mais imediata, e dos sítios a ela integrados, numa porção de 10 mil hectares. Aceitaram, ambos, com resignação, as contingências do destino e tocaram a vida em frente sem abatimentos. Manoel do Rego Lages e esposa Maria Adélia de Carvalho Pires, em registro visual realista gerado por IA. Adolescente, Manoel do Rêgo Lages casou-se com sua prima segunda Maria Adélia de Carvalho Pires, neta de sua tia Adélia Pires Lages e filha do matrimônio de seu primo Nelson Pires Alves e sua prima Adalgisa Pires de Carvalho e silva . Ele, da fazenda Monte Alegre em Batalha, tinha como pai Custódio Borges Alves Sobrinho , radicado em Batalha e descendente ainda de ramificação familiar barrense-batalhense, atrelada, além dos Pires Ferreira e Castello Branco, a outros agrupamentos como os Coelho de Resende e os do Monte Furtado, de Piracuruca. Ela, filha do coronel Trasíbulo de Carvalho e Silva , um dos mais combativos políticos da história de Barras, rábula, intendente desse Município e deputado estadual, irmão do ex-governador General Coriolano de Carvalho e Silva e do militar Francisco Epaminondas de Carvalho, que se fixou no Rio Grande do Sul em definitivo, após o governo do irmão. Casado, Manoel se estabeleceu, inicialmente, em Batalha, onde nasceu sua primeira filha, Célia Pires Lages, de saudosa memória, e onde manteve, sem o sucesso esperado, sociedade com o primo-segundo, sempre fiel e estimado por toda a vida, Raimundo Nonato Lages. De lá, passou a residir na localidade Santa Luzia, hoje pertencente à Nossa Senhora dos Remédios, então Porto, onde nasceriam os filhos Nelson e Rosa Maria. Estabeleceu-se em seguida no Jenipapeiro, a 52 quilômetros do núcleo urbano de Barras do Marataoã, e um dos braços da antiga fazenda Esperança, , antes de seu desmembramento em outros núcleos. Ali, por um ano, seu pai, meu bisavô Alfredo, construiu, em formato de U, com as mesmas marcas da casa-grande da Esperança, agradável casa de fazenda, cujo encerramento da construção ocorreu em 1946, presenteando, na ocasião, com a nova edificação, Manoel e Maria, em nome de seus netos. Por que falar de uma casa? Ora, a casa é também uma família, simbolicamente as raízes e marcas de pertencimento de um agrupamento familiar a um lugar e a um tempo. Manoel e Maria viveriam por toda a vida, por longos anos, nessa casa ainda hoje vigorosa na continuidade do encanto de sua descendência pela vida no campo, especialmente por intermédio do filho Gladston. A casa situada no alto de um morro, depois de uma curva, de onde se avistam outros morros tomados de vegetação e mistério e um horizonte que enche os olhos de esperanças. Naquela data, a pedido de Maria Adélia, a nora e sobrinha de segundo grau, vovô Alfredo passaria a morar na fazenda Jenipapeiro até quase lhe findar os dias, em 1958. Sentindo a proximidade da “indesejada das gentes”, há 3 dias da última despedida, a pedido pessoal, foi levado em romaria pelos filhos e agregados à sede da antiga Esperança, ao quarto onde nasceu, a 6 quilômetros da fazenda Jenipapeiro, e ali se despediria em definitivo do mundo. Com o distanciamento temporal que a idade trouxe, vemos hoje que vovô era mais que o afeto, mais que sua casa mítica. Vovô era um homem justo, acolhedor, de espírito alegre, avesso ao aviltamento humano. Com o distanciamento temporal, eu vejo reverberar nele o que, adolescente, ouvia meu pai Gonçalo Soares Monteiro, um de seus quatro genros, pregar-me, não exatamente nestas palavras: “Onde vicejam rivalidades vãs, o egoísmo e a ambição sem limites, corroem-se os laços de convivência, inviabilizando transformações e oportunidades de crescimento para todos”. Meu pai ilustrava essa situação falando das ervas daninhas tomando o fôlego das árvores a que se prendiam. Em meu avô, com a chegada da adolescência, em sua casa de portas abertas para acolher gente jogada nas lides no meio da mata, na forma amigável de tratar os trabalhadores rurais e no desapego às vaidades do dinheiro, eu enxergava o homem do coração maior do que o peito suporta, o homem pronto a ajudar. O homem generoso e justo. A palavra de quem o conheceu fala melhor por mim. Hoje, em um mundo de fragmentações e de fragilidade da condição de ser em detrimento do ter, de imediatismo e depreciação de virtudes e valores universais, pergunto-me até onde isso tudo tem seu real valor? Onde cabe mesmo o humanismo e se ele deve, de fato, ser guia da existência? Insisto em querer acreditar que sim. Uma de minhas maiores felicidades junto ao meu avô foi o dia em que ele levou a mim, ao irmão mais novo e a um dos primos a uma grande lona onde o gado não correria encaretado. Eu tinha 12 anos. Barras recebeu um espetáculo circense diferente. Mais importante que palhaços, acrobacias, bichos exóticos para nossa cultura. Vovô viera à cidade, especialmente, para nos levar ao circo. A expectativa e adrenalina ganhavam forma em touros bravos provocados por corajosos cavaleiros, ao centro do palco, de gestos ligeiros, com fronha vermelha balançando nas mãos. O touro cavando a terra e arremessando a cabeça no ar, tentado acertar com os chifres o alvo. A plateia delirando de medo em um só grito: Uuuuuuu! Uuuuuuu! Uuuuuuu! Havia duas galerias, sendo uma delas mais próxima do palco, a especial, onde nos acomodamos, na primeira fila. A tão esperada atração surgiu: eu cochilava e acordei assombrado. O touro roçou a grade e olhou bem no fundo de nossos olhos. Vovô sorriu e nos disse que a grade de ferro era segura, que não tivéssemos medo, tratando de nos abraçar. Nunca me esquecerei daquele dia, como jamais me sairá do pensamento as longas férias escolares na fazenda, de muitas descobertas e alegrias, sendo uma das principais meu avô. Penso que todo avô é pai infinitas vezes... Também jamais me sairá da lembrança o quatro de dezembro, quando estava prestes a completar meus quinze anos. Meu avô doente há um mês e quinze dias aproximadamente, de moléstia sufocante, que nos tomava de desespero, dor e sufocamento iguais aos seus, em dia fechado, eu sentiria pela primeira vez, de verdade, o peso da morte. Se a árvore derrubada, o pássaro caído, o gato envenenado, o cachorrinho velho desfalecido e tanta cousa que eu vivera provocavam uma sensação desagradável, era tudo isso muito pequeno diante da dimensão concreta de que tudo um dia fenece. Ouvi na rua a vizinha dizer que meu avô morria. Corri para sua casa, onde ele convalescia, a poucos metros da residência de meus pais. O quarto tomado de lágrimas; o avô na rede, filhos e netos de então acompanhando os últimos momentos, também os irmãos dr. José e Alcides Lages. Os olhos de vovô Manoel percorreram, todo o quarto enquanto se segurava nas mãos dele uma vela, para repentinamente, sem vida, esvaziar-se para sempre e José do Rêgo Lages, o mano mais novo, estender as mãos sobre as pálpebras e fechar-lhe os olhos, indicando que jazia, ali, agora apenas um corpo sem alma. Meu avô Manoel do Rêgo Lages, pai infinitas vezes, transformava-se naquele dia, para sempre, em saudade.
 - Antônio Carvalho de Almeida: história familiar e a ocupação da antiga Barras
Gilberto de Abreu Sodré Carvalho - genealogista, historiador e ficcionista Não atingi as origens remotas do sobrenome Carvalho, na minha genealogia patrilinear, para além do século 17 e, geograficamente, em lugar anterior ao seu surgimento em Ribeira de Pena. O apelido é toponímico e pode ser uma ramificação descendente, por homem ou mulher, daqueles da honra de Carvalho, terra com privilégios passados e reconhecidos pelo rei, em Celorico de Basto, lugar próximo a Ribeira de Pena, na mesma região do rio Tâmega. O primeiro adotante dessa sobrenomeação foi o cavaleiro Paio de Carvalho, no século 12. No Piauí, fomos voltados para a terra do gado vacum e do algodão, para a produção da carne seca e o comércio a grosso. Fomos povo do sertão e das agruras da vida simples; muito católicos. Não fomos barões nem intelectuais. Essa história é dos séculos 18 e 19. No século 20, há empobrecimento na minha linha genealógica patrilinear. pelo fato de meu bisavô José Carvalho de Almeida (segundo do nome) ter morrido cedo, com o que se perdeu a riqueza que poderia ser havida se tivesse tempo. Um grupo de homens de apelido “Carvalho”, configurados como “Carvalho de Almeida”, veio ao Piauí na passagem do século 17 para o 18, e durante esse último século. Os primeiros párocos no território atual do Piauí foram os padres Miguel Carvalho de Almeida (vigário de Rodelas), Tomé de Carvalho e Silva (vigário da Mocha) e Inocêncio Carvalho de Almeida (vigário da Barra, com jurisdição no médio e alto Gurgueia e Curimatá, território que iria se constituir no antigo termo de Parnaguá), todas paróquias da jurisdição do bispado de Pernambuco. Algum tempo depois, a freguesia da Mocha recebe o território do médio e alto Gurgueia em permuta pelo território do São Francisco, que lhe pertencia. Contemporaneamente a esses três Carvalho, também chegava Bernardo de Carvalho, possivelmente parente dos três referidos. Beranrdo iria ser mestre-de-campo do novo território, plantaria fazendas e geraria descendência. Duas décadas depois, chegavam Manuel Carvalho de Almeida e Antônio Carvalho de Almeida (segundo do nome), ambos militares reinóis. Portanto, são seis portadores da sobrenomeação Carvalho, todos portugueses, três religiosos e três militares. Muito havia de fantasia e erro quanto ao parentesco entre esses seis personagens históricos, no entanto, com o acesso a um inventário por iniciativa de Gustavo Conde Medeiros, em 2017, e a um processo de habilitação de um sobrinho à herança do tio vigário, no caso, o padre Tomé de Carvalho e Silva, muita coisa é desvendada. A esses dados, junta-se um estudo revelador publicado pelo medievalista português Manuel Abranches de Soveral, que traz a origem dessa gente no Reino ( Famílias de Ribeira de Pena: subsídios para a sua genealogia – séculos XV a XVIII ). Fica elucidado o parentesco entre os três padres que chegaram ao bispado de Pernambuco, no final do século 18, sendo o padre Miguel Carvalho de Almeida – o famoso padre Miguel de Carvalho - irmão do padre Inocêncio Carvalho de Almeida, e ambos primos do padre Tomé de Carvalho e Silva. Também, o parentesco destes com o nosso capitão-mor Antônio Carvalho de Almeida (segundo do nome), que colonizou o Norte do Piauí e deixou grande parentela Carvalho e de apelido Castelo Branco. Ele era sobrinho, protegido e herdeiro do padre Tomé de Carvalho e Silva. Teve um homônimo, Antônio Carvalho de Almeida (primeiro do nome) que foi capitão-mor do Rio Grande do Norte. Esse Antônio, mais velho, foi irmão dos padres Miguel e Inocêncio. A família Carvalho teve ao menos três padres com o nome de Miguel, em homenagem a um ancestral comum, sendo que dois destes se vincularam ao Piauí. Reginaldo Miranda anota que ainda não foi esclarecida a descendência de Antônio Sanches de Carvalho, filho de Isabel de Almeida e Domingos Dias da Silva, e sobrinho e herdeiro por testamento do Pe. Tomé, que também se fixou no Piauí. No testamento do padre Tomé de Carvalho e Silva, observa-se que o padre André da Silva, coadjutor em Oeiras, era seu sobrinho-neto, por algum caminho. O Comissário Geral da Cavalaria Manuel Carvalho de Almeida, vivente entre os séculos 17 e 18, pode ser filho do padre Miguel; com nascimento no Reino, o padre ainda muito novo; e entregue ao casal Belchior Gomes da Cunha (um pai oficial emprestado) e Isabel Rodrigues (mantida ainda como possível verdadeira mãe). Não seria possível a um popular (fosse Manuel um popular) obter a patente regular do Exército de “comissário geral da cavalaria”, uma condição análoga à de major ou mesmo de tenente-coronel, nos tempos de hoje. Hoje, penso, de conformidade com Manuel de Soveral, respeitabilíssimo genealogista português, que seria improvável que alguém, sem alguma origem nobre, pudesse ser um oficial superior do Exército, no período dado. Daí, Soveral propõe que Manuel foi filho do padre Miguel, possivelmente com a referida Isabel Rodrigues. Belchior teria servido como pai emprestado. O fato de o padre Miguel ser religioso, nobre que era no sentido praticado no século 17 português e antes, não prejudicaria em nada a passagem de nobreza para um filho seu, nascido antes ou após ser consagrado sacerdote. A doutrina da nobreza entendia desse modo. O filho primogênito de Manuel, de nome completo Francisco da Cunha e Silva Castelo Branco, omitiu os nomes de seus avós paternos (os pais de Manuel) em sua justificação de nobreza de 1765 (aos seus 49 anos), feita em Campo Maior, na capitania do Piauí [1] . A única referência aos avós paternos de Francisco era de serem de Videmonte, Linhares. Por que Francisco teria omitido os seus nomes? Francisco casou-se com a filha mais velha do nosso Antônio Carvalho de Almeida (segundo desse nome completo) e de Maria Eugênia Mesquita Castelo Branco (neta de Dom Francisco de Castelo Branco), de nome Ana Rosa Pereira Teresa do Lago. Francisco, por via de sua mulher, tinha acesso a toda memória dos Carvalho de Ribeira de Pena. Curioso o nome completo de Ana Rosa, que não sabemos as razões para o ter adotado quando moça. Sei apenas, como um frágil esboço de palpite, que a mulher de Antônio Carvalho de Almeida (primeiro desse nome completo) se fez chamar Maria Teresa Pereira Rebelo Leite. Voltemos a Francisco, marido de Ana Rosa. Ainda que Francisco não tenha nomeado os pais de Manuel em 1765, indicou-os em uma petição, datada de 1787, dirigida à rainha de Portugal, Dona Maria I, na qual pedia o início dos procedimentos para a obtenção do hábito de cavaleiro da Ordem de Cristo. Em 1787, Francisco da Cunha e Silva Castelo Branco tinha 71 anos de vivo. No requerimento, de 1787, ele declara, como pais de Manuel, seu pai, Belchior Gomes da Cunha e Isabel Rodrigues. O fato de Francisco não ter querido dizer os nomes de seus avós paternos (os genitores de Manuel) na justificação de 1765, foi superado pelo fato de os ter finalmente identificado na petição à rainha Dona Maria I, em 1787. A hesitação de Francisco ou, no mínimo, a sua falta de assertividade e de detalhes sobre os genitores de seu pai Manuel, levam-me à solução de que o pai seria o padre Miguel Carvalho de Almeida (o famoso cronista do Piauí do século 17). [2] O padre Miguel de Carvalho, também conhecido como padre Miguel de Carvalho e Almeida, e ainda como padre Miguel Carvalho de Almeida [3] , nasceu em 1664, em Ribeira de Pena, no antigo arcebispado de Braga, no norte do Reino. Hoje, o lugar Santo Aleixo, onde nasceu, é a freguesia de Salvador e Santo Aleixo de Além-Tâmega. Está no concelho de Ribeira de Pena, agora no distrito de Vila Real. O padre Miguel Carvalho de Almeida possivelmente morreu em Lisboa, tendo passado um longo tempo, quando jovem (entre 1693-1698), na então circunscrição do bispado de Olinda, também referido como bispado de Pernambuco, na América Portuguesa. Miguel Carvalho de Almeida (pai do padre Miguel) foi filho de Domingos Carvalho (ou de Carvalho), moço da câmara da Casa Real, juiz de órfãos de Ribeira da Pena e senhor da Quinta de Bragadas de Além-Tâmega, em Santo Aleixo, onde faleceu em 7 de julho de 1668, e de Catarina de Almeida (primeira desse nome completo), nascida cerca de 1608. Essa Catarina foi filha de Antônio Gonçalves de Matos e de Maria Leitão de Almeida, nascida em Santa Marinha de Ribeira de Pena. O padre Miguel Carvalho de Almeida, primogênito, teve três irmãos inteiros: Domingos Carvalho de Almeida [4] — moço da câmara da Casa Real (12 de janeiro de 1699), cavaleiro da Ordem de Cristo (9 de março de 1699), capitão-mor de Ribeira de Pena, familiar do Santo Ofício (16 de setembro de 1700), senhor da Quinta de Bragadas, em Além-Tâmega, Santo Aleixo, e da Quinta de Senra de Cima, em Salvador, Ribeira de Pena. Teve, em 4 de outubro de 1710, carta de cota-de-armas para “Carvalho” e “Almeida”. A Quinta de Senra de Cima foi armoriada de escudo partido de “Carvalho” e “Almeida”. Antônio Carvalho de Almeida — moço da câmara da Casa Real (12 de janeiro de 1699), cavaleiro da Ordem de Cristo (9 de março de 1699), capitão de infantaria, mestre de campo dos auxiliares de Chaves, capitão-mor de Natal, no Rio Grande do Norte, familiar do Santo Ofício (8 de março de 1702), escrivão proprietário do cartório do concelho de Cabeceiras de Basto e dos coutos de Refoios e Abadim (16 de maio de 1745). Casou-se com Maria Teresa Pereira Rebello Leite. Inocêncio Carvalho de Almeida — capelão-fidalgo da Casa Real (12 de dezembro de 1699). Este Antônio, irmão do padre Miguel e do padre Inocêncio (e também de Domingos, que não nos importa aqui), é referido como tendo substituído a Bernardo Vieira de Melo e tendo sido sucedido por Sebastião Nunes Colares, como capitão-mor do Rio Grande do Norte. Sua designação para esse posto ocorreu quando a capitania foi passada da Bahia para Pernambuco [5] . Sobre Antônio Carvalho de Almeida (ou de Carvalho e Almeida), o capitão-mor, conforme consta dos assentamentos da Torre do Tombo, ele foi feito moço de Câmara, pelo rei Dom Pedro II, em 1699, tal qual tinha sido seu avô Domingos Carvalho ou de Carvalho, o qual é dito como tendo sido, a seu tempo, moço da Câmara. O nosso Antônio Carvalho de Almeida (segundo desse nome completo) teria morrido em 1775 e ingressou na América Portuguesa pela Bahia, tendo como lugar de sua primeira residência, Jacobina, onde foi capitão de ordenanças [6] . O outro Antônio Carvalho de Almeida (primeiro desse nome completo) seria alguém já maduro no ano de 1701, quando foi diretamente para o Rio Grande do Norte. O padre Miguel é referido como missionário naquela capitania [7] . Pode ser que o padre Miguel tenha ido ao Rio Grande do Norte, vindo do Piauí. Em suma, os irmãos Miguel, Antônio e Inocêncio, filhos de Miguel Carvalho de Almeida (sênior) e de Helena Gonçalves de Matos, estiveram juntos no Nordeste, no mesmo período ou aproximado, entre o final do século 17 e início do século 18. Domingos Carvalho de Almeida, o irmão segundo que sucedeu ao pai, ficou em Ribeira de Pena, como senhor de solar, esquivando-se de aventuras no Novo Mundo. De rigor, conforme os costumes, o sucessor da tradição não se movia da sua sede. O padre Tomé de Carvalho e Silva, o padre Miguel de Carvalho e Silva e o sobrinho desses dois, Antônio Carvalho de Almeida (segundo desse nome completo), seguiram na segunda leva da parentela Carvalho de Almeida. Este Antônio era, como já dito, filho de uma irmã inteira dos dois padres, de nome Isabel de Almeida, com Domingos Dias da Silva. Pode-se ainda trazer para esse rol de personagens, o provável parente, o valoroso Bernardo Carvalho de Aguiar, de quem Manuel foi homem de confiança. Esse, não por coincidência inexplicável, era de Vila Pouca de Aguiar, concelho que em sua formação territorial originária continha o povoado da Ribeira de Pena [8] . No final do século 17, o ouro achado onde hoje está a cidade de Jacobina (conhecida também como Jacobina do Norte ou Jacobina Velha), na Bahia, atraiu os bandeirantes paulistas. No início do século 18, a exploração ainda era clandestina, mas, a partir de 1722, a mineração passou a ser controlada pela governação régia. Em 1726, por provisão do Conselho Ultramarino, foi construída uma casa de fundição. A arrecadação passou em pouco tempo a cerca de 3.841 libras de ouro. Antônio Carvalho de Almeida veio do Reino para a Bahia para servir como capitão da guarnição de Jacobina. Antônio, meu sexto-avô patrilinear, marido de Maria Eugênia de Mesquita Castelo Branco, minha sexta-avó, nasceu em Santo Aleixo de Além-Tâmega, Ribeira de Pena, Arcebispado de Braga, em Portugal. Faleceu depois de 1768, ano do casamento de seu filho Antônio Carvalho de Almeida (meu sexto-avô patrilinear), e antes de 1778, quando do casamento de sua filha Ana Maria, na fazenda Taboca, então Parnaíba, depois Campo Maior, em seguida Barras do Marataoã e hoje no atual município de Esperantina. Segundo Castelo Branco (2013), Antônio Carvalho de Almeida e sua esposa foram os primeiros habitantes do lugar Batalha. O lugar Batalha surgiu a partir da carta de data da sesmaria Caraíbas, concedida, a 18 de julho de 1737, ao casal Antônio e Maria Eugênia, pelo governador do Maranhão e Grão-Pará, João de Abreu Castelo Branco. Nessas terras, Antônio Carvalho de Almeida fundou uma fazenda situada na margem direita do rio Longá. O padre Tomé de Carvalho e Silva, tio de Antônio Carvalho de Almeida, que havia sido o vigário da Mocha, atual Oeiras, era proprietário de terras na freguesia do Longá, tendo fundado ali as fazendas Victoria e Tranqueira, ao longo do rio Longá, do lado direito do rio. Antônio Carvalho de Almeida e o seu tio, o padre Tomé de Carvalho e Silva pleitearam e receberam cartas de data de sesmaria em 1739, nos seus nomes e nos nomes dos três filhos de Antônio. Sustentaram o pleito no fato de ali terem fundado fazendas de gado vacum havia mais de 33 anos, ao longo do rio Longá, do lado direito, rio acima, entre a atual divisa com o município e a antiga freguesia de Piracuruca, no estreito do rio dos Matos (antigo Mato Grosso), onde começava a fazenda da Victoria, até a fazenda Boa Esperança, passando pela fazenda da Tranqueira, até lindar com a antiga fazenda Taguary, na confluência do riacho Taguary. Antônio Carvalho de Almeida casou-se cerca de 1726, em Parnaíba, com Maria Eugênia de Mesquita Castelo Branco, nascida cerca de 1710, em Parnaíba, falecida provavelmente no lugar Batalha, onde hoje se encontra a cidade de Batalha. Ela era filha de João Gomes do Rego Barra e Ana Castelo Branco de Mesquita. Antônio Carvalho de Almeida, depois de casado, retornou com a mulher ao seu posto na guarnição de Jacobina Velha, na Bahia, onde nasceram seus filhos. O casal se transferiu definitivamente para a fazenda Victoria, situada em terras do atual município de Esperantina, poucos anos antes de receber as cartas de data de sesmarias, em 1739, visto que as fazendas Boa Esperança, Tranqueira e Victoria estavam até então nas mãos do padre Tomé de Carvalho e Silva, tio de Antônio. Antônio Carvalho de Almeida e Maria Eugênia Mesquita Castelo Branco construíram sua casa-grande no sítio (local) da fazenda da Victoria e lhe deram nome de Taboca. A casa-grande foi edificada na margem esquerda da confluência do riacho Tabocas com o rio Longá, no antigo município de Parnaíba, depois Barras, atual Esperantina. Notas [1] É curioso que esse documento, datado de 1765, tenha sido apresentado em Castelo Branco (1980), p. 217-238. A curiosidade está em que, no contexto do livro de Renato Castelo Branco, ele pretendia indicar, ou mesmo comprovar, a condição incontroversa de nobreza por parte de Francisco. Talvez, Renato nunca pudesse admitir que o documento fosse usado para sugerir que Francisco não sabia sobre seus avós paternos. [2] Eu mesmo sou descendente de Manuel, várias vezes. Meu sobrenome Carvalho, no entanto, vem, patrilinearmente e sem interrupção, de Antônio Carvalho de Almeida (segundo desse nome completo), que não é irmão nem parente documentado de Manuel, como se tem neste corrente ensaio. [3] Os apelidos da mesma pessoa podiam variar com as circunstâncias [4] Que podia variar para Domingos de Carvalho e Almeida. [5] Rosas (1999). [6] Dados sobre o Antônio, sobrinho, constantes de Pires Ferreira (2013) e de Castro (2014). [7] Verbete “Antônio de Carvalho e Almeida”, no site da Fundação José Augusto – Centro de Estudos e Pesquisas Juvenal Lamartine - CEPEJUL: fjacepejul.nr.gov.br , em outubro de 2016. [8] Conforme Marques (1993), o concelho de Ribeira de Pena foi criado pelo rei Dom Afonso IV, em 1331, por pedido de seus moradores. Até então, Ribeira de Pena era parte do concelho de Aguiar de Pena, depois dita Vila Pouca de Aguiar. Muito tempo transcorreu até o final do século 17, no entanto, a região é a mesma.
 - Assim vi meu pai de Socorro Mello Tajra
Ex-governador e memorialista Leônidas de Castro Mello, com a filha Socorro Mello ao colo. [Dilson Lages Monteiro - curador do Museu Virtual de Barras do Marataoã] Em circulação, uma obra de grande interesse aos leitores de memórias sobre o Piauí: “Assim Vi Meu Pai, de Socorro Mello Tajra”. Trata-se de um livro autorreferencial, que dialoga com um dos clássicos do memorialismo regional na literatura piauiense, Trechos do meu caminho, de Leônidas de Castro Mello, cuja primeira edição é da década de 1980. Obra reeditada em 2017, pela Academia Piauiense de Letras, aos cuidados de Nelson Nery Costa. Socorro Mello Tajra, pondo em interlocução a voz narrativa do pai e a de seus contemporâneos, além de resumir ou recontar didaticamente os lances de superação da trajetória de Dr. Leônidas de Castro Mello, enseja novas condições para a leitura de uma dimensão desconhecida publicamente sobre o biografado. Em sua narrativa, faz-se ver “o grande desafio do trabalho biográfico, o desafio que torna o perfil biográfico mais próximo dos leitores: ao falar do seu personagem, o biógrafo, de certa forma, fala de si mesmo, projeta algo de suas emoções, de seus próprios valores e necessidades”. A autora concentra-se em conciliar a relação entre as ações praticadas pelo pai no contexto social e as no seio familiar, assinalando a coerência e constância das ações, e sobretudo, o amor às origens, o desapego à ânsia de uma perspectiva de vida centrada na especulação financeira. Assim Vi Meu Pai é livro – cumpre enfatizar – autorreferencial. Lê-lo é recapitular o projeto discursivo de Trechos do Meu Caminho. Nessa obra, projetando-se do lugar social de ex-governador que o foi, não haveria, supõe-se, como Leônidas Mello desconsiderar o descortinamento das relações de poder, das circunstâncias e detalhes de fatos controversos de seu tempo. De como foi ocupando ou criando as oportunidades que fizeram a vida e a carreira vitoriosa em todos os campos da atividade humana a que se propôs: o magistério, a medicina, a política-partidária. Entretanto, o que conquista os leitores no texto que funciona como matriz de Assim Vi Meu Pai é, sobretudo, o derramamento lírico da escritura, o tom de conversa do texto com abundantes discursos diretos e as descrições de costumes e espaços da primeira metade do século XX. A descrição do cotidiano de um homem simples e, conforme a versão da escrita de si, afeito às virtudes e à inclinação para a vontade de servir, reproduzida em variados documentos constantes na autobiografia. Ainda que o conjunto de textos de Assim Vi Meu Pai, de Socorro Mello Tajra, remonte os instantes de grandes emoções ou conquistas da vida de Leônidas Mello; os traços da personalidade do biografado e de suas ações, um dos propósitos comunicativos evidentes da narradora, vertem-se em segunda natureza, quando Barras do Marataoã volta à cena nas memórias sobre a fase de maturidade do pai, principalmente, representado agora pelo olhar afetuoso e vivencial da filha amável. A fazenda Santa Rita e a temporada no lugarejo exemplificam. Mais uma vez, os costumes são humanizados e conquistam ressonância nas recordações de um sem número de leitores que guardam alguma lembrança campestre. A gastronomia, os hábitos rotineiros, além da descrição sinestésica de aspectos arquitetônicos e da paisagem, põem o leitor em contato com sons, cheiros, sabores e visões de um tempo eterno, arquivado no fundo mais profundo de nossas subjetividades. Sons, cheiros, sabores e visões que suplantam o tempo, para o aqui e o agora da universalidade. A universalidade de Trechos de Meu Caminho de Leônidas de Castro Mello revive nas páginas de Assim Vi Meu Pai, de Socorro Mello Tajra. Revive a luz que foi chama para grandes realizações que permanecem até hoje como marca intransponível da certeza de que, para muito além das relações de poder, o fim maior da vida é servir.
 - A. Tito Filho - um depoimento
Barrense A. Tito Filho, uma das grandes expressões do Piauí do século XX, com o médico e agente público Dirceu Mendes Arcoverde, ex-governador do Estado. Elmar Carvalho Conheci o escritor e professor José de Arimathéa Tito Filho, ou simplesmente A. Tito Filho, seu nome literário, desde meados de 1985. Morando em Teresina desde agosto de 1982, quando assumi meu emprego na extinta Sunab, costumava passar de motocicleta na frente da antiga sede da Academia Piauiense de Letras, da qual ele era presidente. Porém, nunca adentrei esse imóvel. Em 1985 a APL adquiriu sua sede própria, situada na Avenida Miguel Rosa, 3300 – Centro Sul, através de doação do Estado do Piauí, quando eram governador do Estado e secretário estadual da Cultura, respectivamente, Hugo Napoleão e Jesualdo Cavalcanti, que se tornaram mais tarde membros do sodalício. A partir dessa época passei a frequentar o belo e sobranceiro sobrado solarengo em que A. Tito Filho dava expediente todo dia. Recebia-me com alegria. Entretínhamos animada conversa, de conteúdo literário, mas recheada de “causos” ou episódios anedóticos, em que figuravam importantes personalidades de nossa literatura. Nessa prática o professor destilava seu humor, salpicado de finas ironias. Muitas vezes minha visita foi registrada no Notícias Acadêmicas, boletim mensal que ele publicava com regularidade. Prefaciou inúmeros livros. Em sua coluna literária, em jornais de Teresina, emitiu comentários sobre centenas de obras e autores, mas sem ferir a suscetibilidade de quem quer que fosse. Comentava-se que quando a obra não tinha mérito literário, ele falava sobre a personalidade e biografia do autor, ou sobre os temas abordados no livro. De qualquer sorte, todos ficavam felizes em merecer uma resenha ou comentário de A. Tito Filho. No primeiro governo de Alberto Silva coordenou o ousado Plano Editorial do Estado do Piauí, em que foram publicadas dezenas de obras importantes e emblemáticas da literatura piauiense. Para várias dessas obras ele elaborou abalizados comentários críticos, além de ricas notas esclarecedoras, interpretativas ou de caráter elucidativo, filológico e biográfico. Um dia em que eu conversava com ele, um velho intelectual piauiense, de saudosa memória, já um tanto debilitado pela idade, lhe perguntou se a pronúncia correta da palavra nascimento era “nacimento” ou “naiscimento”. O mestre lhe respondeu com uma pergunta: “Entre o a e o s existe um i?” O consulente lhe respondeu que não. Ele simplesmente acrescentou: “Então, você já tem a resposta”. Isso demonstrava a vivacidade, a verve e a suave ironia bem-humorada do grande mestre, erudito e filólogo. Nasceu em Barras, em 14 de outubro de 1924, e faleceu em Teresina, em 27 de junho de 1992. Portanto, aos 68 anos incompletos. Era filho de Arimathéa Tito e Nize do Rego Tito. Órfão desde o nascimento, pois sua mãe morreu em virtude de complicação no parto. Exerceu vários e importantes funções e cargos públicos, entre os quais os de secretário estadual da Educação e da Cultura, mas foi sobretudo professor de Português, escritor e filólogo. Escreveu inúmeros livros, entre os quais Teresina, meu amor, Gente & humor, Sermões aos peixes, Memorial da Cidade Verde, Praça Aquidabã, sem número e Crônicas da cidade amada. Contudo, a sua obra magna talvez tenha sido exercer a presidência da APL, por mais de vinte e um anos, com invulgar competência e total dedicação; nisso se esmerou. Segundo Wilson Carvalho Gonçalves, ilustre escritor e historiador barrense, de quem tive a honra de ser amigo e de lhe prefaciar e apresentar vários livros, ele foi “uma das maiores culturas do seu tempo, liderou a vida cultural piauiense durante três décadas. Era um animador e um incentivador da vida cultural piauiense”. Eu mesmo posso dizer que fui estimulado por ele. Um dia, perto de sua morte, numa de minhas visitas habituais, em seu gabinete na APL, ele me disse que eu era um amigo da Academia, e que já estava me tornando um “academiável”. Em seguida, me recomendou enfeixasse meus poemas em um volume, porquanto desejava publicá-los. Fiz o que ele me recomendou. Meses depois, ele morreu. Contei esse diálogo ao professor Paulo Nunes, seu sucessor, que me disse manteria a promessa de A. Tito Filho, mas desde que meu livro fosse submetido ao Conselho Editorial da entidade. Em 1995 esse livro, a que dei o nome de Rosa dos Ventos Gerais, foi editado, através de parceria entre a APL e a UFPI. Foi meu primeiro livro individual. Antes eu tivera participação em várias coletâneas e antologias, mas nunca em um livro exclusivamente de minha autoria. O seu aceno inicial de que “já estava me tornando academiável” , veio a se concretizar em 2008, quando me tornei membro efetivo da APL. Sou muito grato ao notável intelectual, orador, erudito e escritor A. Tito Filho, cronista e filólogo de escol, de quem tenho gratas e felizes recordações. E dele sinto saudades; por isso o tenho sempre presente em minha lembrança. Escritor Elmar Carvalho (*) Discurso de posse de José Elmar de Mélo Carvalho na cadeira nº 5 da Academia de Letras do Vale do Longá, ocorrida no dia 23.05.97, no IATE Clube de Campo Maior. Estavam presentes vários barrenses, entre os quais, meu pai (Miguel Arcângelo de Deus Carvalho, Geraldo Majella Carvalho, Bilé Carvalho, Antenor Rego Filho, Francy Monte (talvez Monte Filho) e Domingos José Carvalho.
 - Barras do Marataoã
Centro de Barras em aquarela, gerado por IA. Reginaldo Miranda Da Academia Piauiense de Letras A aprazível cidade de Barras, no norte do Piauí, antiga Barras de Marataoan, também foi em suas origens chamada popularmente de Capela das Barras. Deita suas origens no princípio da colonização, tendo iniciado em uma fazenda denominada Buritizinho, ao que anotam alguns cronistas, de propriedade do fazendeiro e coronel de ordenanças baiano Miguel Carvalho de Aguiar. Na primeira metade do século XVIII, teria este iniciado a construção da capela sob o orago de Nossa Senhora da Conceição, porém, falecendo sem concluí-la. No que se refere ao nome da fazenda, em nossas pesquisas sempre encontramos referência à fazenda das Barras, com mais de quatro léguas de terras, e nunca Buritizinho, tendo recebido aquela denominação em razão de sua localização privilegiada, entre seis barras de rios e riachos, inclusive o Marataoan. Com o falecimento do pioneiro proprietário, foi a extensa fazenda arrematada em praça no juízo dos ausentes, pelo colonizador português Manoel da Cunha Carvalho, que tomou para si a responsabilidade pela conclusão da capela, concluindo-a em 1759, com a ajuda de alguns fiéis e de missionários católicos, sendo frei Manoel da Penha, para uns, padre Malagrida, para outros. Posteriormente, Manoel da Cunha Carvalho destacou da referida fazenda, cerca de três léguas de terras e as vendeu para Manoel Antunes da Fonseca, tendo este repassado pouco mais de uma légua de comprimento por quase outra de largura a Antônio da Costa Oliveira. No entanto, Manoel da Cunha Carvalho reservou para si “pouco mais de hua legoa de terra, na dita fazenda das Barras, aonde está hua Capella de Nossa Senhora da Conceipção”, conforme consta em um documento redigido pelo desembargador Francisco Marcelino de Gouveia, em 16 de novembro de 1762. Por este documento pode-se concluir que até a data indicada, o local onde hoje se situa a cidade de Barras somente pertenceu aos criadores Miguel Carvalho de Aguiar e Manoel da Cunha Carvalho, este último casado com Isabel da Cunha e Silva Castelo Branco, filha do português Manuel Carvalho de Almeida e de sua esposa Clara da Cunha e Silva Castelo Branco. Em torno da capela iniciou-se o povoamento do lugar, de forma que em 1809, já era um núcleo populacional bastante promissor, com meia dúzia de casas na parte meridional. Em 1815, formaram-se as primeiras ruas, sendo o distrito de Barras criado por decreto de 20 de outubro de 1823; a emancipação política, desmembrando-o do termo de Campo Maior, deu-se pela lei provincial nº 127, de 24 de setembro de 1841, oficialmente instalado em 19 de abril do ano seguinte, que criou a vila e município de Barras. Foi a vila elevada à categoria de cidade com a denominação de Barras do Marataoan, pelo decreto n.º 1, de 28 de dezembro de 1889. Porém, cumpre esclarecer que esta não é a data de sua emancipação política e sim a da anterior elevação à categoria de vila. Para deleite dos historiadores, transcrevo na íntegra a fonte de minhas informações, o relatório do desembargador Francisco Marcelino de Gouveia, depositado no Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa: “O mesmo Antonio da Costa de Oliveira, possue mais hua porção de terra, que teria pouco mais de legoa de comprimento, e quasi outro tanto de largura, que hera pertencente à fazenda da Barra, a qual lhe vendeo Manoel Antunes da Fonseca, senhor da dita fazenda”. “Manoel Antunes da Fonseca, possui a fazenda da Barra, com quasi duas legoas, por ter vendido a mais terra com que a comprou, a Antonio da Costa de Oliveira, como fica dito, a qual comprou a Manoel da Cunha Carvalho, rezervando este, que a tinha rematado em prasa no Juiso dos ausentes desta comarca para sy, pouco mais de legoa de terra, como logo se dirá”. “Manoel da Cunha Carvalho, possue, pouco mais de hua legoa de terra, na dita fazenda das Barras, aonde está hua capella de Nossa Senhora da Conceipção, o que tudo era pertencente à mesma fazenda das Barras, e do mesmo possuidor já declarado”. Ficam essas notas como contribuição à história desta bela cidade do norte do Piauí. (Diário do Povo, 6.11.2016). Foto: Centro de Barras do Marataoã, em registro de Valdemar Leite Filho.
 











