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Crônica de Frederico Rebelo: "O Coronel que teimou com o Sapo"

  • dilsonlages
  • 19 de mai.
  • 2 min de leitura

(*) Frederico Antônio Rebelo Torres


Na vastidão das matas piauienses, nos idos anos de 1902, onde o tempo parecia escorrer lentamente entre os galhos retorcidos das árvores e o canto dos pássaros se confundia com o sussurro do vento, vivia o Coronel Antônio Gomes Rebello. Homem de posses e prestígio, filho de Laurentino Gomes Rebello e Maria Madalena da Paz Borges Leal, era conhecido, ele e sua família, por sua teimosia inabalável e por manter a palavra com a rigidez de um contrato selado em sangue.


Casado com a bela Idalina Frederica de Jesus Rodrigues dos Santos, mulher de fibra e fé, filha do poderoso casal Capitão Frederico José Rodrigues e Anna Joaquina de Jesus, o Coronel Antonio levava uma vida regrada na Fazenda Bacuri, situada entre as localidades de União e Barras. A propriedade, embora próspera, era isolada, e os recursos médicos escassos.



Túmulo de Laurentina Maria da Paz Borges Leal Rego, irmã do coronel Antônio Rebelo. Cemitério de Miguel Alves. Fonte: parentesco.com.br Acervo de Torquato Torres.
Túmulo de Laurentina Maria da Paz Borges Leal Rego, irmã do coronel Antônio Rebelo. Cemitério de Miguel Alves. Fonte: parentesco.com.br Acervo de Torquato Torres.

Certa noite, durante o rigoroso inverno nordestino, Idalina Frederica entrou em trabalho de parto. As chuvas incessantes transformavam os caminhos em trilhas lamacentas, e os trovões pareciam anunciar presságios. Preocupado com a saúde da esposa e do filho que estava por vir, o Coronel decidiu buscar ajuda na cidade deixando sua amada aos cuidados de sua irmã Laurentina Maria da Paz Gomes Rebello.


Montado em seu fiel cavalo, Trovão, partiu sob a tempestade, enfrentando as veredas alagadas e os ventos cortantes. Enquanto avançava, seus pensamentos se voltavam para o compadre, que deveria ter providenciado uma segunda parteira. Em meio à escuridão, sozinho e montado no cavalo questionou em voz alta:


— Será que o compadre foi?


Nesse instante, um coaxar distinto rompeu o silêncio:


— Foi-não-foi.


Surpreso, o Coronel parou. O som parecia vir de um sapo oculto nas sombras.


— Foi ou não foi? — Foi-não-foi.


A teimosia do Coronel foi posta à prova por aquele anfíbio insolente. Sentindo-se desafiado, desceu do cavalo e, armado com seu alfanje, adentrou a lagoa em busca do sapo. A noite avançava, e o Coronel, imerso na água fria, cortava as ramagens, determinado a encontrar o provocador.


Ao amanhecer, os trabalhadores da fazenda o encontraram exausto, ainda na lagoa, murmurando para si mesmo. Levaram-no de volta à casa, onde soube que Idalina Frederica havia dado à luz a um menino saudável, Frederico Rodrigues Rebello.


O Coronel, porém, passou dias recolhido, abatido não pela febre, mas pela humilhação de ter sido vencido por um sapo. Desde então, evitava falar sobre aquela noite, e os moradores da região, em sussurros, contavam a história do homem que desafiou a natureza e foi derrotado por sua própria teimosia.


(*) Frederico A. Rebelo Torres, escritor, membro de diversas instituições culturais, entre as quais, União Brasileira de Escritores. Alval e Academia Miguelavense de Letras, da qual é presidente.

 
 
 

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