Fuga para a Taumaturgo de Azevedo
- dilsonlages
- 25 de mai.
- 2 min de leitura
Atualizado: 31 de mai.

[Chagas Botelho]
Quando as águas do Rio Marataoã engordaram, toda acasa ficou em situação de enchente. Naquele instante fluvial, começava o drama da minha família, pois o nosso pedaço de chão estava completamente inundado. Quase todos os pertences, conquistados a duras penas, boiavam incontroláveis sobre a invasora turva e impiedosa. Meus pais juntaram o que puderam para, em seguida, numa trouxa amarrada às pressas, fosse jogada em cima de uma carroça balsâmica. Agora submersa, partimos da Rua Fenelon Castelo Branco em direção a um abrigo providencial. Desabrigados, seguimos banhados de lágrimas e lama.
Um velho galpão, com cheiro de secos e molhados, era o nosso novo lar. A residência temporária dos mais recentes alagados da cidade mesopotâmica. Um exíguo espaço cedido pelo seu João Eulálio e a sua esposa dona Léia Eulálio, patrões de minha mãe, uma doméstica simples e dedicada. Seu Joãozinho, como era carinhosamente conhecido, nos amparou com comiseração e de certa forma comovido com a força das enchentes do finalzinho da década de 1970. Chegamos à nova morada, quase sem nada, maltrapilhos.
Passei a dormir num único cômodo com meus pais e irmãos. Um amontoado de corpos desolados e entristecidos. Deveria ter lá os meus sete anos de idade. No primeiro dia, ao abrir o portão, que ficava nos fundos da loja do seu Joãozinho (loja que tempos depois virou Armazém Paraíba) me deparei com a rua larga e imponente. Tratava-se da Rua Taumaturgo de Azevedo. Na esquina, ficava a ponta da Praça da Matriz. Defronte ao nosso alento, funcionava o suntuoso prédio da prefeitura. Um pouco à sua direita, a descida para a Prainha que felizmente não transbordara. À direita de nossas instalações, outra descida, aliás, a descida da diversão que desembocava até o balão lá para os rumos da Boa Vista. Desse outro lado das cheias, meu mundo era melhor. Mais feliz.
Leia a crônica do comunicador e cronista barrense Chagas Botelho, com memórias da Rua Taumaturgo de Azevedo, publicada na coletânea Rua Grande de Barras do Marataoã, organizada por Dílson Lages Monteiro, com textos para Barras jamais esquecer:
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Chagas Botelho é radialista, cronista. Exerce o radialismo há 30 anos, com atuação em alguns dos principais veículos de comunicação do Piauí. Entre suas obras, Delito Intencional (crônicas, editora UICLAP) e Olhar de Casca de Banana, vencedora do concurso de novos autores promovido pela Fundação Cultural Monsenhor Chaves. Natural de Barras-PI.
Conheça mais do trabalho de Chagas Botelho em entrevista:
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