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O PESQUEIRO – Um ponto turístico na vida de Barras – PI

  • dilsonlages
  • 27 de abr.
  • 7 min de leitura

(*)Francisco de Assis Alves de Oliveira


Vista panorâmica da barragem do Pesqueiro

Google Imagens 2018


A cidade de Barras foi abençoada pela sua privilegiada localização. Nasceu ao redor de rios, riachos e tantas outras belezas naturais. Às margens do principal rio da cidade, o Marataoan, surgiu o Pesqueiro, que foi primitivamente lugar de morada de ribeirinhos nativos. A função do historiador é fazer lembrar aquilo que a sociedade quer esquecer, disse o historiador Peter Burke. Portanto, não podemos esquecer que o Pesqueiro funcionou como um dos principais atrativos turísticos de Barras, gozando de bom conceito da sociedade barrense até os anos de 2009. Devido a ausência de documentos escritos, vamos recorrer à memória dos moradores da cidade para escrever um breve histórico desse memorável ponto turístico. Apoiamo-nos nos conceitos e teorias de Thompson, para quem a memória de uma pessoa pode ser a memória de muitos, possibilitando a evidência dos fatos coletivos.


O Pesqueiro fez parte de momento importante do turismo na cidade de Barras, quando as belezas naturais do Rio Marataoan eram uma ótima alternativa para a prática de lazer em local de pesca valorizado pelos ribeirinhos; local que se tornou, por muitos anos, o atrativo turístico mais conhecido da cidade. O Balneário natural Pesqueiro ficava Localizado na saída de Barras sentido Teresina, às margens direita do Rio Marataoan, vizinho ao Bairro São Cristóvão.


A barragem do Pesqueiro não era apenas um lugar de visitação turística, mas também de atividade econômica. Existia no lugar uma churrascaria que, por muito tempo, funcionou como um dos espaços mais requintados de Barras, frequentado majoritariamente pela alta sociedade barrense, ou seja, pessoas de gosto aprimorado e com boa condição financeira, dispostas a pagar expressiva quantia em dinheiro para apreciar a gastronomia servida na casa.


O pesqueiro, concentração de pessoas debaixo das árvores

Foto de domínio público, colhida do Google Imagens


A denominação Pesqueiro está vinculada à existência no local de um ponto de pesca artesanal. O espaço, que tempos depois se transformou em um movimentado ponto turístico da cidade, era apenas um ponto onde se reuniam pessoas para pescar. Ressalte-se que o Rio Marataoan se constitui no mais importante recurso hídrico que abastece toda a sociedade de Barras. Suas águas abrigam uma vasta variedade de peixes, propiciando meios de subsistência aos moradores mais carentes de recursos, que utilizam a pesca para fazer uma renda extra e suprir as necessidades alimentares.


Em 1950, a gestão pública municipal. sob o comando de Francisco Luiz de Carvalho e Silva, mandou construir um grande paredão de concreto na área que compreende especificamente a barragem. Essa obra de infraestrutura significou ação de grande alcance social até hoje, porque permitiu represar e armazenar a água no caminho percorre por ele no perímetro urbano, formando dessa forma a barragem do pesqueiro com aproximadamente 68 metros de comprimento, A construção dessa obra favoreceu oportunidade de negócios. Foi determinante para despertar o espirito empreendedor em algumas pessoas que passaram a desenvolver atividade econômica no lugar, oferendo espaço de lazer para população do município e cidades vizinhas. A área é também chamada de barragem da ponte.


Barragem do pesqueiro - Rio Marataoan

Foto: arquivo particular do autor, 2023


O Rio Marataoan é parte integrante da belíssima paisagem natural da cidade de Barras e faz parte do conjunto de elementos constitutivos do Polo das águas, roteiro turístico do Piauí. Balneário, o pesqueiro foi um dos mais visitados e disputados pontos turísticos da cidade. No período do carnaval, milhares de foliões buscavam o local para se divertir e saborear a culinária barrense. As pessoas se deslocavam até o pesqueiro para mergulhar e se refrescar do calor nas águas frias e cristalinas do Rio Marataoan. Os mais aventureiros, de cima da ponte, promoviam um verdadeiro espetáculo, dando salto mortal nas águas da barragem do pesqueiro.


O Pesqueiro teve uma grande rotatividade de proprietários. Passou por diversas administrações, entre elas, a do senhor Vicente Dias de Barros, o Vicente da Cooperativa, que foi o último proprietário em seu momento áureo entre 2002 a 2009. Conta o senhor Vicente que foi o período dos melhores carnavais de Barras no Pesqueiro. Antes, porém, foi administrado durante 8 anos por um senhor de nome Heraldo Paraibano. Além deles, outros mais tocaram negócios no Pesqueiro, a conferir: Ademar Canabrava, Associação do Bairro São Cristóvão e Francisco Izídio de Sousa (Chico Hermínio), que tinha sociedade com o senhor Saturnino Borges de Melo. O período de permanência dos dois últimos foi de apenas 5 anos, 1982 a 1986, ocasião em que realizaram uma reforma e ampliação, visto que o Pesqueiro, nessa época, tratava-se de uma pequena palhoça.


Anterior a tudo isso, teve o seu momento mais importante: a criação do Pesqueiro como ponto turístico, por volta de 1976. Originalmente, pertenceu ao senhor Sebastião Araújo Silva, o Sebastião Sesóstis, de quem podemos dizer foi um visionário. Alguém que imaginou o futuro de forma a fazer planos para alcançar seus objetivos. Conta o senhor Sebastião Sesóstis que visitou o local e ficou observando o movimento de pescadores e banhistas; sentou na cabeceira da ponte e passou a conversar com ele mesmo dizendo: “Aqui parece ser um lugar que dá para ganhar um bom dinheiro”. Ele não perdeu tempo, logo construiu uma palhoça, ou seja, uma habitação rústica coberta de palha de coco babaçu e juntamente com sua esposa, a senhora Maria Nilsa de Araújo Rego Silva, passou a vender bebidas e comidas nas margens do Rio Marataoan.


Sebastião Sesóstis, o homem que teve a excelente ideia de transformar um ponto de pesca em um local de negócio e lazer

Foto: arquivo particular do senhor Sebastião Sesóstis.


Cabe nesse momento fazer um registro importante, o senhor Sebastião Sesóstis conta ainda que enfrentou desafios e dificuldades para iniciar o negócio, devido a conflitos com uma família ribeirinha nativa do local, mais precisamente uma senhora conhecida pelo apelido de Zeferina, que dizia não aceitar a existência de um bar na frente de sua residência. A barraca de palha foi construída no exato local onde existiu primitivamente a residência de uma família, que se mudou do local devido a uma grande enchente que fez o rio Marataoan transbordar e alagou a casa da ribeirinha. Na frente da churrascaria, tinha uma cerca de talo de palmeira de babaçu.


No período de administração do proprietário Vicente, o espaço recebeu melhorias para melhor acolher o turista. O acesso ao local era dificultado devido a um barranco que causava desconforto no subir e descer. Logo na entrada, ao descer da estrada para entrar no pesqueiro, os visitantes se deparavam com essa ribanceira, ou seja, terreno com grande declive, que posteriormente foi eliminado com o nivelamento da margem mais elevada do terreno, facilitando o acesso.


Roda de amigos na churrascaria do Pesqueiro

Foto: Arquivo particular do senhor Sebastião Sesóstis


A churrascaria era um atrativo a mais para os banhistas que se dirigiam à barragem do pesqueiro, que promovia shows ao vivo com atrações musicais da cidade, quais sejam: banda chapéu de couro, banda RPS com o cantor João do Preto, entre outras. Um dos frequentadores conta que um dos últimos proprietários do estabelecimento desenvolvia algumas estratégias para cativar os clientes, por exemplo, já servia a bebida acompanhada de uma porção de caldo de peixe surubim como cortesia da casa. As pessoas compareciam para tomar banho, mas também para apreciar as delícias da churrascaria.


A Maçonaria realizou algumas de suas festas de confraternização no pesqueiro. Também, as festas de confraternização da prefeitura, na época em que foi Prefeito o senhor Raimundo Triunfo. Conta o senhor Francisco Izídio de Sousa (Chico Hermínio), que o Governador Hugo Napoleão e sua comitiva, nas visitas que faziam ao município de Barras, tiveram almoço servido no pesqueiro. Nessa comitiva, estavam, entre outros, o deputado Humberto Reis da Silveira. Conta, ainda, Francisco Izídio que, na sua época, os bares da cidade de Barras tinham dificuldade em vender a cerveja Antártica, por conta da predileção quase que exclusiva dos apreciadores pela cerveja Brahma. De acordo com as palavras do Senhor Francisco, o ponto turístico em estudo se destacou como um dos primeiros a vender a cerveja Antártica na cidade.


Pesqueiro- detalhe da fachada principal da churrascaria em ruínas

Foto: arquivo particular do autor, 2023


A ponte que fica sobre o Rio Marataoan ligando o centro da cidade ao bairro São Cristóvão constitui o conjunto paisagístico do Pesqueiro; cuja construção no modelo atual se deu entre os anos de 1961 a 1965, sob o governo de Francisco das Chagas Caldas Rodrigues. A estrutura mede 96 metros de comprimento. Ela veio em substituição à antiga ponte, que era de madeira.


Ponte de madeira sob Marataoã

Registro colhido da web sem autoria declarada.


Fachada principal da ponte, que faz parte do conjunto paisagístico do Pesqueiro

Foto: arquivo particular do autor, 2023.


O desinteresse dos empreendedores locais, a resistência ao banho de rio e o aparecimento das piscinas nos quintais das residências foram determinantes para o desapreço ao pesqueiro, que deixou de ser um dos lugares mais glamourosos da cidade Barras. Hoje obscurece a estética da cidade. O pesqueiro foi um ponto turístico que merece ser lembrado e registrado na história de Barras.


Podemos chegar à conclusão de que são três os elementos que constituem o conjunto paisagístico do pesqueiro como ponto turístico, quais sejam: A ponte, a barragem e a churrascaria. Os pescadores ribeirinhos, nativos do local, foram a inspiração para o nome. A construção da barragem atraiu os banhistas para o lugar. A churrascaria passou a atender as necessidades dos turistas em relação à comida e às bebidas.


(*)Francisco de Assis Alves de Oliveira é pesquisador. Graduado em História e Especialista em História do Brasil



Referência:

ARAÚJO, Maria José de Oliveira Calaça. Depoimento oral, 2023.

ARAGÃO, Marília Carvalho. Planejamento Turístico e Desenvolvimento no município de Barras-PI, 2011.

BARROS, Vicente Dias de. Depoimento oral, 2023

BURKE, Peter. A Escrita da História e novas Perspectivas. São Paulo: Unesp,1992.

SILVA, Francisco das Chagas Cardoso. Depoimento oral, 2023 SILVA,

Maria Nilsa de Araújo Rego. Depoimento oral, 2023 SILVA,

Nelson Alves da. Depoimento oral, 2023 SOUSA,

Tânia Maria de. Depoimento oral, 2023 SOUSA.

Francisco Izidio de. Depoimento oral, 2023

SILVA, Sebastião Araújo. Depoimento oral, 2023

NASCIMENTO, Cleudiane Rodrigues. Impacto Geoambiental do Rio Marataoan: Barragem do pesqueiro – Município de Barras-PI, 2012.

THOMPSON, Paul. A voz do passado. São Paulo: Paz e Terra, 1992


Assista à leitura coletiva do artigo realizada pelo autor para Tributo à Cidade Natal, organizado pelo Museu Virtual de Barras do Marataoã.




 
 
 

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