Relembrando Lucílio de Albuquerque
- dilsonlages
- 22 de jun.
- 3 min de leitura
*José Fernandes do Rêgo

Ao ensejo do transcurso de mais um aniversário da morte de Lucílio de Albuquerque, ocorrida a 19 de abril de 1939, numerosos amigos reuniram-se na residência do grande pintor para homenagear sua memória e, também, para expressar sua simpatia à dona Georgina de Albuquerque, viúva do grande artista, companheira admirável de toda sua existência e inspiradora de uma das suas telas mais famosas, conhecida como o “Retrato de Georgina”. Durante a reunião, tivemos oportunidade de percorrer a maioria dos trabalhos que lhe valeram merecido renome internacional e que tanto contribuíram para salientar, nos meios artísticos e culturais, o nome de Parnaíba, e o do seu berço. Por isto, não podemos deixar de assinalar, de passagem, a ausência do bancada do Piauí e de outras autoridades do Estado num momento em que era prestado tributo de afirmação a um dos mais eminentes filhos da velha província nordestina.
A paisagem física e cultural do Nordeste, é bem verdade, pouca influência teve na vida e na obra de Lucílio de Albuquerque. Os temas patrióticos estão presentes em numerosos dos seus trabalhos, como a “Anchieta escrevendo à Virgem” ou “Execução à Luzerna”, mas a região de seus nascimentos contribuiu, apenas, para a tela em que retratou a Matriz da Virgem da Conceição, de Barras, por ele idealizada à referida região, e “Mãe Preta” e a composição belíssima em que representava Iracema, o que, é do nosso entender, um dos seus mais extraordinários trabalhos.
Sabe-se bem, que apesar da educação longe do Piauí, dos viagens à Europa, que tanta repercussão tiveram na sua carreira, Lucílio de Albuquerque nunca esqueceu a terra de seus ancestrais, como o demonstra a dedicação filial com que pinta a tela em que evoca a matriz da Padroeira de Barras, terra de seu nascimento, a qual já nos reportamos. É forçoso de triste ver um país, mesmo os mais cultos, raras vezes os homens de saber ter um tão permanente esquecimento pelos filhos que o enobrecem. Os descendentes de Lucílio de Albuquerque como admiradores de sua obra artística e de seu exemplo de educador, declaram-se dispostos a oferecer sua colaboração àqueles que se dever organizar a distribuição entre as pessoas abastadas do Estado. Os quadros do grande pintor para as festas do centenário, serão cedidos, certamente, com todo o prazer, por dona Georgina, incansável na dedicação com que cultua a memória do seu esposo. A exposição dos trabalhos de Lucílio de Albuquerque, será facilitada, ainda mais, pelos preparativos em organização para receber as telas de Renoir que o sr. Assis Chateaubriand pretende exibir à Imprensa do Piauí.
Para patrocinar a nossa ideia, convidamos o Clube Telepinas, a interessante organização cultural de Teresina, que conta com as figuras de José Olympio de Mello, Ulysses Marques, Carlos Eugênio Poti e Clidenor Freitas Santos, o extraordinário construtor do “Meduna”, que ainda a capacidade do homem se opõe aos mais altos destinos artísticos e culturais, que nos fazem, por vezes, lembrar a figura de Rimbaud, que depois de deixar a língua francesa, dos mais belos poemas dedicou-se a atividades de ordem prática; e a surpreendente colaboração do cientista africano que, renunciando até mesmo a complexas manobras na política internacional aceitou marcar a sua existência com a missão de resistência contra a absorção das massas.
É possível que, junto aos idealistas do Clube Telepinas, encontremos o apoio necessário para a realização do nosso intento: divulgar a obra e o exemplo de Lucílio de Albuquerque. O entusiasmo dos seus admiradores e discípulos é suficiente para dar impulso ao nosso projeto e cabe ao povo do Piauí a glória de estimular a iniciativa que se propõe, apenas, a dar expressão à memória de um dos maiores pintores brasileiros.
*José Fernandes do Rêgo foi ativo jornalista barrense radicado no Rio, ocupando importante papel na imprensa escrita nas décadas de 1950 e 1960.
Publicado originalmente em A Luta, em 3 de agosto de 1952.
P.S.: A família barrense Rêgo Fernandes, natural de Barras e radicada no Rio de Janeiro, residiu, próximo à casa do pintor Lucílio de Albuquerque na Capital Federal, sendo Lucílio frequentador da residência do ilustre barrense, segundo relato do historiador e cronista Antenor Rêgo Filho, membro desse grupo familiar.
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