top of page
Museu Virtual de Barras do Marataoã (1).png

Relembrando Lucílio de Albuquerque

  • dilsonlages
  • 22 de jun.
  • 3 min de leitura

*José Fernandes do Rêgo


Mãe Preta, 1912, de Lucílio de Albuquerque (n.Barras do Marataoã, 1877, f. no Rio de Janeiro,1939)
Mãe Preta, 1912, de Lucílio de Albuquerque (n.Barras do Marataoã, 1877, f. no Rio de Janeiro,1939)

Ao ensejo do transcurso de mais um aniversário da morte de Lucílio de Albuquerque, ocorrida a 19 de abril de 1939, numerosos amigos reuniram-se na residência do grande pintor para homenagear sua memória e, também, para expressar sua simpatia à dona Georgina de Albuquerque, viúva do grande artista, companheira admirável de toda sua existência e inspiradora de uma das suas telas mais famosas, conhecida como o “Retrato de Georgina”. Durante a reunião, tivemos oportunidade de percorrer a maioria dos trabalhos que lhe valeram merecido renome internacional e que tanto contribuíram para salientar, nos meios artísticos e culturais, o nome de Parnaíba, e o do seu berço. Por isto, não podemos deixar de assinalar, de passagem, a ausência do bancada do Piauí e de outras autoridades do Estado num momento em que era prestado tributo de afirmação a um dos mais eminentes filhos da velha província nordestina.


A paisagem física e cultural do Nordeste, é bem verdade, pouca influência teve na vida e na obra de Lucílio de Albuquerque. Os temas patrióticos estão presentes em numerosos dos seus trabalhos, como a “Anchieta escrevendo à Virgem” ou “Execução à Luzerna”, mas a região de seus nascimentos contribuiu, apenas, para a tela em que retratou a Matriz da Virgem da Conceição, de Barras, por ele idealizada à referida região, e “Mãe Preta” e a composição belíssima em que representava Iracema, o que, é do nosso entender, um dos seus mais extraordinários trabalhos.


Sabe-se bem, que apesar da educação longe do Piauí, dos viagens à Europa, que tanta repercussão tiveram na sua carreira, Lucílio de Albuquerque nunca esqueceu a terra de seus ancestrais, como o demonstra a dedicação filial com que pinta a tela em que evoca a matriz da Padroeira de Barras, terra de seu nascimento, a qual já nos reportamos. É forçoso de triste ver um país, mesmo os mais cultos, raras vezes os homens de saber ter um tão permanente esquecimento pelos filhos que o enobrecem. Os descendentes de Lucílio de Albuquerque como admiradores de sua obra artística e de seu exemplo de educador, declaram-se dispostos a oferecer sua colaboração àqueles que se dever organizar a distribuição entre as pessoas abastadas do Estado. Os quadros do grande pintor para as festas do centenário, serão cedidos, certamente, com todo o prazer, por dona Georgina, incansável na dedicação com que cultua a memória do seu esposo. A exposição dos trabalhos de Lucílio de Albuquerque, será facilitada, ainda mais, pelos preparativos em organização para receber as telas de Renoir que o sr. Assis Chateaubriand pretende exibir à Imprensa do Piauí.


Para patrocinar a nossa ideia, convidamos o Clube Telepinas, a interessante organização cultural de Teresina, que conta com as figuras de José Olympio de Mello, Ulysses Marques, Carlos Eugênio Poti e Clidenor Freitas Santos, o extraordinário construtor do “Meduna”, que ainda a capacidade do homem se opõe aos mais altos destinos artísticos e culturais, que nos fazem, por vezes, lembrar a figura de Rimbaud, que depois de deixar a língua francesa, dos mais belos poemas dedicou-se a atividades de ordem prática; e a surpreendente colaboração do cientista africano que, renunciando até mesmo a complexas manobras na política internacional aceitou marcar a sua existência com a missão de resistência contra a absorção das massas.


É possível que, junto aos idealistas do Clube Telepinas, encontremos o apoio necessário para a realização do nosso intento: divulgar a obra e o exemplo de Lucílio de Albuquerque. O entusiasmo dos seus admiradores e discípulos é suficiente para dar impulso ao nosso projeto e cabe ao povo do Piauí a glória de estimular a iniciativa que se propõe, apenas, a dar expressão à memória de um dos maiores pintores brasileiros.


*José Fernandes do Rêgo foi ativo jornalista barrense radicado no Rio, ocupando importante papel na imprensa escrita nas décadas de 1950 e 1960.


Publicado originalmente em A Luta, em 3 de agosto de 1952.


P.S.: A família barrense Rêgo Fernandes, natural de Barras e radicada no Rio de Janeiro, residiu, próximo à casa do pintor Lucílio de Albuquerque na Capital Federal, sendo Lucílio frequentador da residência do ilustre barrense, segundo relato do historiador e cronista Antenor Rêgo Filho, membro desse grupo familiar.



 
 
 

Comments


bottom of page