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ALMANAQUE DA HISTÓRIA DE BARRAS: José Pires Ferreira e a vida rural de Barras do Marataoã em anúncio de 1888.

  • dilsonlages
  • 22 de jun.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 23 de jun.

[Dílson Lages Monteiro, da Academia Piauiense de Letras, curador do Museu Virtual de Barras do Marataoã]


Aos srs. collectores da Parnahyba, Campo-maior e Barras.
Communico que vendi os mengados (ferro, signal e carimbo) existentes nas fazendas: Vermelha, ao capm. Bernardo Borges Leal, Tucaia e Marathoan, ao capm. Mariano Gil Castello Branco, Olho d’agua e Cabeceiras, ao capm. José de Souza Pires e Morro, ao alferes Manoel Lopes Castello Branco.Barras, 10 de Abril de 1888.José Pires Ferreira 
A reforma, 23.04.1888

 

O ano é 1888. O Brasil, especialmente o sertão nordestino, traduz-se a partir da forte presença da aristocracia rural, com predominância da pecuária como base econômica e uma estrutura de pouca mobilidade social, rígida em sua organização: hierárquica, militarizada (oficial e extraoficialmente) e patrimonialista. Nesse contexto, os meios impressos figuram como principal forma de divulgação pública.


Em linguagem cerimoniosa, o anúncio acima, de caráter oficial e administrativo, informa aos arrecadadores do Império que o fazendeiro José Pires Ferreira Neto vendeu os seus "mengados" (ferro, sinal e carimbo, aqui funcionando para designar as próprias reses bovinas), em várias fazendas dele. Os novos proprietários do gado (todos de patentes militares: "capitães" e "alferes") e as respectivas fazendas em que se encontram (em Parnaíba, Campo Maior e Barras) são assim enumerados:

 

Fazenda Vermelha → Capitão Bernardo Borges Leal

 

Tucaia e Marathaoan → Capitão Mariano Gil Castello Branco

 

Olho d'Água e Cabaceiras → Capitão José de Souza Pires

 

Morro → Alferes Manoel Lopes Castello Branco

 

 

Na estrutura agrária do século XIX, as “marcas de ferro, sinal e carimbo” funcionam, numa sociedade em que a pecuária era a principal atividade econômica, como forma de identificar o gado e provar a propriedade. Observa-se, ainda, a partir do anúncio, que havia obrigações fiscais a cumprir e que a presença do estado Luso-Brasileiro  ocorria, entre outros fatores, por meio de coletores. Eles, além de recolherem impostos, faziam registros administrativos, o que demonstra o controle da Monarquia sobre a atividade rural.


Todos os gados de propriedade de José Pires Ferreira Neto nas fazendas referidas são comercializados em um ano emblemático, o ano da libertação dos afrodescendentes escravizados (Lei Áurea), 1888. Como a mão de obra nas fazendas de gado se constituía por vaqueiros livres ou colonos empobrecidos, esse parece não ser o fator determinante da venda. Nesse ano, constava o fazendeiro a idade de 76 anos e o provável é que tenha ocorrido por questões sucessórias, econômicas ou pessoais.


José Pires Ferreira Neto


José Pires Ferreira Neto (1812 -1908) no Rio de Janeiro, com 94 anos
José Pires Ferreira Neto (1812 -1908) no Rio de Janeiro, com 94 anos

Segundo Edgardo Pires Ferreira (1), José Pires Ferreira Neto, um dos patriarcas da família Pires Ferreira de Barras do Marataoã, nasceu em


“16.08.1812 no sítio (fazenda) de Santa Cruz das Pedras Preguiças, no município de Barreirinhas, no Maranhão, e + 03.06.1908 no Rio de Janeiro, com 94 anos, à rua Pedro Ivo, 36, sendo sepultado no Cemitério de São Francisco Xavier. (...) Casou-se em primeiras núpcias em 1833 no município de Barras com MARIA JOAQUINA DE JESUS CASTELLO BRANCO CARVALHO DE ALMEIDA, n. em Barras, e + 20.02.1856 em Barras, quando do nascimento de seu filho Antônio”.

Registra ainda Edgardo Pires Ferreira que José Pires Ferreira se casaria mais três vezes


 “(...) em segundas núpcias em 1858 no Brejo dos Anapurús com UMBELINA ANTONIA DE LIMA CASTELLO BRANCO, n. no Brejo dos Anapurús, no Maranhão, e + antes de 1878 em Barras.
(...)  e em terceiras núpcias, em 24.06.1878, na fazenda Olho D'água dos Pires, no município de Barras, hoje Esperantina, com sua prima legítima ADELAIDE ROSA DE CARVALHO CASTELLO BRANCO, n. 02.07.1842 no lugar Satisfeito, no município de Barras, e + em 1883 no Olho d´Água dos Pires.
(...) .. e em quartas núpcias, em 1884, com ROSA LINA DO REGO CASTELLO BRANCO, n. 1867 na fazenda Jatobá, na "Chapada da Limpeza", no município de Barras, hoje Esperantina, e + em Luzilândia.”

 

SAIBA MAIS sobre José Pires Ferreira Neto na plataforma de genealogia Parentesco.


O ANÚNCIO


A reforma, 23.04.1888


(1) FERREIRA, Edgardo Pires. A mística do parentesco - uma genealogia inacabada. Volume 2: Piauí, Rio de Janeiro. São Paulo: Corrêa do Lago, 1992.

 
 
 

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